terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

VARA DE FERRO

Vara de Ferro

Uma das primeiras referências nas quais encontramos na Bíblia a expressão “vara de ferro” é o Salmo 2. No Salmo, para justificar a necessidade da “vara de ferro”, o autor faz uma alusão profética acerca do comportamento dos gentios que se entregaram à amotinação e às vaidades da vida. Os termos concatenados fazem menção a um fato preocupante: a provocação ao Senhor. Provocar significa afrontar, muito embora não reverenciem a Deus através de uma fé gentílica, os mesmos, com libertina petulância, tentam desfazer com os institutos estabelecidos desde o início, reivindicando a superação dos valores devido à obsolescência (perspectiva mundana) e provocarem mais uma escravização do indivíduo do que cumprir com um papel para o gozo social. O salmista se reporta a eles da seguinte maneira: “Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas” (Salmos 2:2-3).
Em meio a tantos problemas os quais nos deparamos hoje, verificamos semelhante espírito de rebeldia. O crescimento da violência, a corrupção política, a aceitação da sodomia, a legalização de drogas ilícitas, a regulamentação do aborto e da eutanásia, a impunidade defendida por suposto direito humano, a perda do pudor, a insurreição contra os estamentos e o desrespeito à fé cristã são alguns exemplos de como o processo degenerativo e mundano tem “superado” a vontade divina, provocando o Senhor. Por mais que muitos julguem que o Senhor não leva em consideração as feituras humanas, podendo perdoá-las no porvir, a Bíblia Sagrada assevera o contrário. A razão é muito simples: o ser humano está alcançando o ápice da devassidão, de modo que somente um governo forte e inabalável é capaz de restaurar a ordem de todos os elementos.
Por esta razão, há muito se profetizou a vinda do Messias e ao mesmo tempo do Supremo que também é o Rei dos reis: “E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono” (Ap 12:5). O texto faz uma referência figurada do Cristo que executou a obra de redenção para em seguida, muito depois, restaurar a ordem pelo poder da “Vara de Ferro”. De sorte que em breve realizará uma obra de restauração, fazendo severa oposição aos sistemas de vida contemporâneos, pois muitos verão uma grande batalha acontecer, em evento particular, de modo que da ocasião se profetizou o drama, pois “...da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso” (Ap 19:15).
Essa reação divina será como uma prestação de contas, ao mesmo tempo em que é o desembocar a ira de Deus contra todos os atos rebeldes do gênero humano. Portanto, irá cobrar pelo desprezo e pela desonra que a humanidade concebeu e proliferou no exercício de sua negação a toda orientação divina. O termo que melhor tipifica a situação e sua necessidade é “Vara de Ferro”, ou seja, estabelecer no milênio o Estado cujo mandamento é o Senhor e somente Ele. Um sistema sem a interferência humana e com total desaprovação de qualquer sugestão leviana.

Então, a mensagem para hoje é a mesma de Apocalipse: “O que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz as Igrejas” e “Venha o teu Reino, ó Senhor!”.

Fonte:  Jornal Tocha da Verdade

A VINDA DO SENHOR

Jesus prometeu aos seus discípulos que um dia voltaria.
Hoje passados mais de 2000 anos até a presença data nada aconteceu.
Muitos desistiram e desanimaram deixando de acreditar nessa promessa, mas nós os que confiamos na Palavra de Deus e que cremos que Jesus é o Messias prometido, o salvador da humanidade, o filho de Deus, o próprio Deus encarnado, devemos proclamar sem medo de errar que isso será uma realidade, pois as promessas de Deus nunca falharam e jamais falharão, por isso a promessa da sua volta será real.
Nunca devemos deixar de crer que um dia iremos ser arrebatados(os que tiverem mortos serão ressuscitados primeiro e os que estiverem vivos no dia da vinda do Senhor serão transformados) para morarmos para sempre com o Senhor.
Os sinais nos mostram que essa realidade está próxima a ser realizada.  Estejamos preparados para que estejamos entre os que irão ser arrebatados.
Não deixemos que as dificuldades venham tirar a nossa esperança de um dia morar com o Senhor.   Que a nossa oração seja sempre:  Ora vem Senhor Jesus.
A palavra de Deus diz que passarão os céus e a terra, mas as palavras de Deus não passarão.  Assim, em o nome de Jesus, vamos todos buscar ao Senhor enquanto podemos o achar, e o invocarmos enquanto Ele está perto, porque Ele através dos ensinamentos da sua palavra nos ensina o que devemos fazer para estarmos preparados para esse grande dia que será a volta do Senhor.
Que o Espírito Santo tenha liberdade em nossas vidas para  cada dia nos ajudar a estarmos fazendo a vontade de Deus:  meditando na palavra de Deus, orando e jejuando, fazendo a sua vontade aqui na terra.
Que Deus em o nome de Jesus ajude-nos a entender o quanto Ele nos ama, e que um dia estaremos desfrutando das maravilhas do Senhor no céu de luz.
Sejamos vigilante e fiéis, pois a palavra de Deus é fiel e verdade e tudo que está escrito está se cumprindo, e certamente sua vinda se cumprirá também.

Fonte:  Texto de Edilberto Pereira,  bacharel em Teologia, baseado na Palavra de Deus

ORAÇÃO DE AGRADECIMENTO

Deus Pai todo poderoso, em o nome de Jesus seu filho amado, te agradecemos por sermos participantes da sua graça.  Sabemos que a sua vontade é que deve ser estabelecida em nossa vida e por isso pedimos que sejamos cada dia mais aperfeiçoados por ti Pai querido.
Agradecemos por termos sido alcançados por sua graça, pelo seu Espírito Santo ter nos convencido que o Senhor é Deus e que o sacrifício que Jesus fez por nós é o meio pelo qual devemos crer que somos aceitos por ti.
Deus santo e poderoso, guarda fiel de seu povo.  Deus fiel e verdadeiro, dá-nos mais e mais da sua graça para que jamais desistamos de seguir-te, pois sabemos que somente através de seu filho podemos ter comunhão contigo.
Pai de amor, a sua bondade e misericórdia tem nos alcançado e por isso continuamos vencendo no maravilhoso e poderoso nome de Jesus, e o seu Espírito Santo têm  nos guiado para que cada vez mais creiamos na sua palavra e têm  nos fortalecido através da oração e meditação da sua santa palavra.
Obrigado Deus, por ter nos escolhido para estar na sua presença e para fazer a tua obra aqui na terra.
Pai santo e glorioso, em o nome de Jesus te agradecemos pelo seu grande amor e que jamais venhamos nos esquecer das tuas obras realizadas em nossas vidas.  Amém.

VONTADE DE DEUS - AJUSTANDO-SE AOS SEUS PROPÓSITOS

Um cristão ou uma cristã amdurecido busca a vontade de Deus e pede sua sabedoria quando está diante de uma decisão importantes.  Crentes devem orar a respeito das decisões  -  especialmente decisões importantes da vida, tais como:  "Em que universidade devo estudar ?",  "Devo me casar com tal pessoa ?", "Devo trazer o meu pai ou minha mãe doente para viver em minha casa ?".  Tais decisões têm sérias conseqüências e merecem que a perfeita sabedoria de Deus seja buscada em oração.  Mas conhecer a vontade de Deus não depende só da oração.  Requer também o compromisso de conhecer a sua Palavra.
A Bíblia ensina que compreender (ou provar) a vontade de Deus é resultado do ajustamento constante de nosso pensamento e de nossa conduta à Palavra de Deus ao longo de toda a vida.  Quando o homem e a mulher cristã lê sua Bíblia diariamente, sua mente é renovada e uma nova maneira de pensar é estabelecida.  Ideias, atitudes e preconceitos mundanos são substituídos por pensamentos que se ajustam aos caminhos de Deus.  Esse processo leva tempo, e não há atalhos.  A transformação não será nunca completa até a morte.
O cristão que tem uma comunhão permanente com o Senhor através da sua Palavra chega a decisões equipado com uma maneira de pensar biblicamente delineada.  Conhecer a vontade de Deus em momentos de decisões importantes será mais fácil se a buscarmos essa vontade diariamente por meio da leitura bíblica e da oração.

Fonte:  A Bíblia da Mulher:  leitura devocional, estudo.  2ª ed.  Barueri, SP

AS SETE IGREJAS DE APOCALIPSE

IGREJA   -    ÉFESO (Ap 2.1-7)               ELOGIO
                                                                    - rejeitou o mal
                                                              - foi paciente
                                                              - trabalhou com afinco
                                                              - pôs à prova falsos apóstolos
                                                              - perseverou

                                                               CRITICA
                                                               - perdeu o primeiro amor por Jesus
                                                       
                                                               CORREÇÃO
                                                               - lembrar-se
                                                               - arrepender-se
                                                               - voltar às primeiras obras
                                                         
                                                               JULGAMENTO
                                                               - remoção do candeeiro

                                                               PROMESSA
                                                               - acesso à arvore da vida

IGREJA   -   ESMIRNA (Ap 2.8-11)        ELOGIO
                                                               - suportou sofrimento e pobreza

                                                               CRÍTICA
                                                               - nenhuma

                                                               CORREÇÃO
                                                               - nenhuma

                                                               JULGAMENTO
                                                               - nenhum

                                                               PROMESSA
                                                               - a coroa da vida

IGREJA   -   PÉRGAMO (Ap 2.12-17)    ELOGIO
                                                               - foi fiel a Cristo, mesmo diante do martírio

                                                               CRÍTICA

                                                               - tolerou imoralidade, idolatria e heresias

                                                               CORREÇÃO

                                                               - arrepender-se

                                                               JULGAMENTO

                                                               - a espada da boca de Cristo

                                                              PROMESSA

                                                              - maná escondido
                                                              - uma pedrinha branca
                                                              - um novo nome
                                                                

IGREJA   -   TIATIRA (Ap 2.18-29)     ELOGIO
                                                            - amor
                                                            - serviço
                                                            - fé
                                                            - paciência

                                                            CRÍTICA
                                                                   - tolerou Jezabel e sua perversidade

                                                            CORREÇÃO
                                                            - arrepender-se
                                                            
                                                            JULGAMENTO
                                                            - todos associados a Jezabe lsofrerão grande
                                                            tribulação e seus filhos morrerão

                                                            PROMESSA
                                                            - autoridade sobre as nações
                                                            - a estrela da manhã

IGREJA   -   SARDES (Ap 3.1-6)        ELOGIO
                                                            -  uns poucos permaneceram fiéis

                                                            CRÍTICA
                                                            - apatia apesar da reputação de vigor

                                                            CORREÇÃO
                                                            - arrepender-se, fortalecer o que resta

                                                            JULGAMENTO
                                                            - volta repentina de Cristo

                                                             PROMESSA
                                                             - vestiduras brancas
                                                             - presença permanente no Livro da Vida
                                                             - seu nome será confessado diante do Pai


IGREJA   -   FILADÉLFIA (Ap 3.7-13) ELOGIO
                                                            - fidelidade

                                                            CRÍTICA
                                                            - nenhuma

                                                            CORREÇÃO
                                                            - nenhuma

                                                            JULGAMENTO
                                                            - nenhum

                                                            PROMESSA
                                                           - uma porta aberta
                                                           - livramento da grande tribulação
                                                           - lugar permanente no templo de Deus
                                                           - um novo nome

IGREJA   -   LAODICÉIA (Ap 3.14-22) ELOGIO
                                                             - nenhum

                                                             CRÍTICA
                                                             - foi indiferente
                                                             - superestimou sua posição diante de Deus
                                                             
                                                            CORREÇÃO
                                                            - arrepender-se
                                                            - buscar as verdadeiras riquezas espirituais

                                                           JULGAMENTO
                                                           - será expelida da boca do Senhor

                                                           PROMESSA
                                                           - se assentará com Cristo no trono

Fonte:  A Bíblia da mulher:  leitura, devocional, estudo, 2ª ed.  Barueri, SP

sábado, 4 de fevereiro de 2017

PRIMEIRA CARTA DE SÃO CLEMENTE DE ROMA AOS CORÍNTIOS

Por Roque Frangiotti e Alessandro Lima
Esta carta foi redigida, provavelmente, pelos fins do reinado de Domiciano (81-96 DC), durante a segunda perseguição aos cristãos movida por este Imperador.
A comunidade de Corinto parece ter vivido em constante conflito. Já em 55 DC, quatro anos após sua fundação, encontrava-se agitada por divisões e escândalos a ponto de ser advertida por São Paulo, nestes termos: “Eu vos exorto, irmãos (…), guardai a concórdia uns com os outros, de sorte que não haja divisões entre vós (…) Com efeito, meus irmãos, pessoas da casa de Cloé me informaram de que existem rixas entre vós” (1Cor 1:10-12)
Mas, a julgar por aquilo que São Paulo escreve dois anos mais tarde, a comunidade de Corinto não parece dar mostras de muita melhora. Planejando uma viagem, pretende passar por Corinto, mas está apreensivo (cf. 2Cor 12:20-21).
Quarenta anos mais tarde, Clemente bispo de Roma, é informado sobre o tumulto que toma conta da comunidade. O Conflito consiste, substancialmente, numa revolta de alguns membros (leigos) contra os presbíteros, onde os primeiros querem depor os últimos de seus cargos. Clemente então escreve para esta comunidade para apaziguar e restabelecer a ordem.
Esta carta foi considerada canônica até o fim do séc. IV, quando a Igreja definiu o católogo Bíblico durante o Concílio Ecumêncio de Hipona (393 DC).
Importância da Carta
É a melhor introdução à História da Igreja. É importante para a jurisdição eclesiástica, sucessão apostólica, hierarquização dos membros da comunidade, mostrando como os fiéis são inferiores aos presbíteros e para a liturgia. A Igreja aparece fundada sobre a autoridade imediata dos apóstolos. É una (não existindo outras), apostólica (gerada através da sucessão regular dos apóstolos), corpo de Cristo.
Conteúdo da Carta
Trata-se de uma carta longa, com 65 capítulos.
A primeira parte trata-se de um breve prólogo onde Clemente explica a demora de sua intervenção nesta comunidade, além de lembrá-los das virtudes do passado e das conseqüências funestas da discórdia.
A segunda parte é genérica (caps. 4-36). Aborda considerações, admoestações morais com o objetivo de restabelecer a paz e a concórdia na comunidade de Corinto. Dá instruções de caráter geral, adverte os fiéis de Corinto sobre a inveja e como bani-la, e fazer penitência recomenda a obediência, a fé, a piedade, a hospitalidade e humildade a exemplo de Cristo. A ordem do universo é modelo de concórdia e paz. Além do exemplo de Cristo, Clemente invoca constantemente os exemplos das virtudes do Antigo Testamento.
A terceira parte (caps. 37-61), insiste sobre a hierarquia da Igreja e a necessidade de submissão às legítimas autoridades. Para isto, mostra como formamos um corpo em Cristo e como neste corpo deve reinar a unidade e não a desordem, pois Deus quis e quer a ordem nas alianças.
A quarta parte é Conclusão (caps. 62-65). Nela Clemente sumariza o que disse e faz votos de que se restabeleça a ordem e paz na comunidade de Corinto.
A Obra
Tradução: Ivo Storniolo, Euclides M. Balancin
Saudação
A Igreja de Deus que vive como estrangeira em Roma, para a Igreja de Deus vive como estrangeira em Corinto. Aos que se chamam santificados na vontade de Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. Que a graça e a paz da parte de Deus todo-poderoso, por meio de Jesus Cristo, se multipliquem entre vós.
PREÂMBULO: Situação da Igreja de Corinto
A Revolta
1. 1Irmãos, pelas desgraças e adversidades imprevistas, que nos aconteceram uma após outra, acreditamos ter demorado muito para dar atenção às coisas que entre vós se discutem. Caríssimos, não nos referimos à revolta abominável e sacrílega, que é estranha e alheia aos eleitos de Deus. Alguns poucos, insensatos e arrogantes, acenderam-na, chegando a tal ponto de loucura que o vosso nome venerável, célebre e amado por todos os homens, ficou fortemente comprometido.
A Santidade de outrora
2De fato, quem esteve convosco, sem reconhecer que vossa fé era firme e cheia de todas as virtudes? Quem não admirou vossa piedade consciente e amável em Cristo? Quem não proclamou vossa generosa prática na hospitalidade? Quem não elogiou vossa ciência perfeito e segura? 3Com efeito, em tudo vós agíeis sem fazer acepção de pessoas, andando segundo as prescrições de Deus, submissos a vossos chefes, e prestando aos presbíteros que estavam convosco a honra que lhes cabia. Exortáveis os jovens à moderação e dignidade. Recomendáveis às mulheres que fizessem tudo de consciência irrepreensível, na dignidade e na pureza, agradando a seus maridos, como convém. Elas se mantinham fiéis à norma de submissão, e vós lhes ensináveis a governar sua casa com dignidade e a observar a discrição em tudo.
2. 1Éreis todos humildes e sem vanglória, procurando mais obedecer do que mandar, mais felizes sem dar do que receber. Vós vos contentáveis com as provisões de viagens fornecidas por Cristo, guardáveis com zelosamente as palavras dele no fundo de vossas entranhas, e os sofrimentos dele estavam diante dos vossos olhos. 2 Dessa forma, uma paz profunda e radiante fora dada a todos, junto com o desejo insaciável de praticar o bem, e se espalhara sobre todos abundante efusão do Espírito Santo. 3Repletos de santa resolução, com prontidão de ânimo para o bem, levantáveis com piedosa confiança vossas mãos aos Deus Todo-poderoso, suplicando-lhe que vos fosse propício, caso tivésseis involuntariamente cometido algum pecado. 4Dia e noite, sustentáveis combate em favor da fraternidade, a fim de conservar íntegro, por meio da misericórdia e da consciência, o número dos eleitos de Deus. 5Éreis sinceros e simples uns com os outros, sem nenhum rancor. 6Toda a briga e divisão eram abomináveis para vós. Choráveis por causa das faltas do próximo e consideráveis as falhas deles como próprias. 7Jamais vos arrependíeis de ter feito o bem, “prontos para toda boa obra”. 8Ornados de conduta virtuosa e venerada em tudo, realizáveis todas as coisas no temor de Deus. Os preceitos e decisões do Senhor estavam inscritos na largueza do vosso coração.
Consequências funestas da discórdia
3. 1Toda honra e abundância vos tinham sido concedidas, e cumpriu-se aquilo que está escrito: “O amado comeu e bebeu, se largou, engordou e recalcitrou[1].” 2Daí surgiram ciúme e inveja, rixa e revolta, perseguição e desordem, guerra e cativeiro. 3Dessa forma, os sem honra se rebelaram contra os honrados, os obscuros contra os ilustres, os insensatos contra os sensatos, os jovens contra os anciãos. 4Por isto, a justiça e a paz se afastaram para longe, porque cada um abandonou o temor de Deus e deixou que se obscurecesse a sua fé nele. Porque não anda mais segundo as diretrizes dos seus preceitos, sem se comporta mais de maneira digna de Cristo. Ao contrário, cada um anda segundo as paixões do seu mau coração, tomado pela inveja injusta e ímpia, através da qual, também agora, “a morte entrou no mundo.”
I. VIRTUDES A PRATICAR
a. Contra a Inveja
Exemplos do Antigo Testamento
4. 1De fato, assim está escrito “Depois de algum tempo, aconteceu que Caim ofereceu frutos da terra em sacrifício a Deus. Abel também ofereceu primogênitos de suas ovelhas com a gordura. 2Deus olhou Abel e seus dons, mas não deu atenção a Caim e seus sacrifícios. 3Caim ficou muito triste e seu rosto se tornou abatido. 4Deus disse a Caim: ‘Por que estás triste e com o rosto abatido? Se apresentaste corretamente tua oferta, mas não fizeste corretamente a partilha, não cometeste pecado? 5Tranquiliza-te. A tua oferta volta a ti e poderás dispor dela!’ 6Caim, porém, disse a seu irmão Abel: ‘Vamos até o campo.’ E quando estavam no campo, Caim se atirou sobre seu irmão Abel, e o matou.”[2] 7Estais vendo, irmãos, que o ciúme e a inveja produziram o fratricídio. 8Por causa da inveja, nosso pai Jacó fugiu da presença do seu irmão Esaú. 9A inveja provocou a perseguição contra José até à morte, levando-o até a escravidão. 10A inveja forçou Moisés a fugir da presença do faraó, rei do Egito, quando ele ouviu seu compatriota dizer: “Quem te colocou como árbitro ou juiz? Queres matar-me como mataste ontem o egípcio?”[3] 11A inveja fez com que Aarão e Maria ficassem alojados fora do acampamento. 12A Inveja fez com que Datã e Abirã descessem vivos para o Hades, porque se haviam rebelado contra Moisés, o servo de Deus. 13Por inveja, Davi não só ficou com ódio dos estrangeiros, mas também foi perseguido por Saul, rei de Israel.
Exemplos contemporâneos
5. 1Todavia, deixando os exemplos antigos, examinemos os atletas que viveram mais próximos de nós. Tomemos os nobres exemplos da nossa geração. 2Foi por causa do ciúme e da inveja que as colunas mais altas e justas foram perseguidas e lutaram até a morte. 3Consideremos os bons apóstolos. 4Pedro, pela inveja injusta, suportou, não uma ou duas, mas muitas fadigas e, depois de ter prestado testemunho, foi para o lugar glorioso que lhe era devido. 5Por causa da inveja e da discórdia, Paulo mostrou o preço reservado à perseverança.
6. 1A esses homens, que viveram santamente, ajuntou-se imensa multidão de eleitos que, devido à inveja, sofreram ultrajes e torturas, e se tornaram entre nós belíssimo exemplo. 2Por causa da inveja, mulheres foram perseguidas. Danaides e Dirces, que sofreram terríveis e monstruosos ultrajes elas atingiram a meta na corrida da fé, e receberam nobre recompensa, embora fossem fisicamente fracas. 3Foi a inveja que afastou as mulheres de seus maridos e alterou a palavra de nosso pai Adão: “Eis o osso do meus ossos e a carne da minha carne[4].” 4 A inveja e a discórdia arruinaram grandes cidades, e destruíram grandes nações.
b. O Arrependimento
Transição
7. 1Caríssimos, escrevemos todas essas coisas, não só para vos advertir, mas também pra lembrá-las a nós mesmos. De fato, estamos na mesma arena, e o mesmo combate nos espera. 2Deixemos, portanto, as preocupações vazias e inúteis, e sigamos a norma gloriosa e venerada da nossa tradição. 3Vejamos o que é bom, o que agrada e o que é aceito diante daquele que nos criou.4Tenhamos os olhos fixos no sangue de Cristo, e compreendamos como é precioso ao seu Pai. Derramado pela nossa salvação, trouxe ao mundo a graça do arrependimento.
A Escritura ensina o arrependimento
5Percorramos todas as gerações e aprendamos que, de geração em geração, o Senhor deu possibilidade de arrependimento a todos aqueles que queriam converter-se a ele. 6Noé pregou o arrependimento, e os que o escutaram foram salvos. 7Jonas anunciou a catástrofe aos ninivitas, e estes se arrependeram de seus pecados, aplacaram a Deus com suas súplicas e obtiveram a salvação embora fossem estrangeiros em relação a Deus.
8. 1Os ministros da graça de Deus falaram sobre o arrependimento, por meio do Espírito Santo. 2e o próprio Senhor do universo falou do arrependimento, jurando: “Eu vivo, diz o Senhor, e não quero a morte do pecador, e sim que ele se arrependa[5].” E acrescenta também um propósito bom: 3“Casa de Israel, arrependei-vos de vossa iniqüidade. Dize aos filhos do meu povo: Ainda que vossos pecados cheguem da terra até o céu, e que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais sujos que o pano de saco, se vos converterdes a mim de todo o coração, e disserdes: ‘Pai!’- eu vos escutarei como povo santo.[6]” 4Em outra passagem , ele diz assim: “Lavai-vos e purificai-vos; tirai da presença dos meus olhos a maldade de vossas almas; acabai com as vossas maldades. Aprendei a praticar bem, procurai a justiça, libertai o oprimido, defendei o órfão e fazei justiça à viúva. Depois, vinde e discutiremos, diz o Senhor. E ainda que vossos pecados estejam como a púrpura, eu os tornarei brancos como a neve; se estiverem como o escarlate, eu os tornarei alvos como a lã. Se quiserdes me ouvir, comereis dos bons produtos da terra; mas, se não quiserdes me ouvir, a espada vos devorará. Isso, de fato, foi a boca do Senhor que falou.[7]” 5Na sua onipotente vontade, ele decidiu que todos os seus amados tenham possibilidade de arrependimento.
[1] cf. Dt 32:15
[5] Ez 18,23; 33,11
c. Obediência e Fé
9. 1Obedeçamos, portanto, à sua grandiosa e gloriosa vontade. Tornemo-nos suplicantes da sua misericórdia e da sua bondade. Prostremo-nos e convertamo-nos à sua piedade, abandonando a vaidade, a discórdia e a inveja, que levam para a morte. 2Fixemos nosso olhar nos que foram os ministros perfeitos de sua grandeza e de sua glória.
Henoc, Noé e Abraão
3Tomemos Henoc, que foi encontrado justo, por causa de sua obediência. Ele foi arrebatado, sem que se encontrasse traço algum de sua morte. 4Noé foi encontrado fiel, e teve como ministério anunciar novo nascimento para o mundo e, por meio dele, o Senhor salvou os seres vivos que, em concórdia, tinham entrado na arca.
10. 1Abraão, que foi chamado amigo, foi encontrado fiel em sua obediência às palavras de Deus. 2Por obediência, ele saiu de sua terra, de sua família e da casa de seu pai. Por ter abandonado pequena terra, parentela insignificante e casa humilde, ele herdou as promessas de Deus. Com efeito, Deus lhe disse: 3“Sai da tua terra, da tua família e da casa de teu pai, a fim de ir para a terra que eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação. Eu te abençoarei, engrandecerei o teu nome, e tu serás abençoado. Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem, e em ti todas as tribos da terra serão abençoadas[8].” 4De novo, quando Abraão se separou de Ló, Deus lhe disse: “Levanta os olhos e vê, desde o lugar onde agora te encontras, para o norte e para o sul, para o Oriente e para o mar. Darei a ti e à tua posteridade para sempre toda a terra que estás vendo. 5Tornarei a tua descendência como a areia da terra. Se alguém conseguir enumerar os grãos da areia da terra, conseguirá também enumerar a tua descendência[9].” 6E, de novo, se diz: “Deus conduziu Abraão para fora e lhe disse: ‘Levanta teus olhos para o céu, e conta as estrelas, se o conseguires. Assim será a tua descendência.’ E Abraão acreditou em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça[10].” 7Por causa da fé e hospitalidade lhe foi dado um filho na sua velhice e, por obediência, ele o ofereceu a Deus em sacrifício sobre uma das montanhas que Deus lhe indicou.
11. 1Por causa da hospitalidade e da piedade, Ló foi salvo de Sodoma, enquanto toda a região circunvizinha era julgada pelo fogo e pelo enxofre. O Senhor mostrava claramente que ele não abandona os que nele esperam e manda punições e tormentos para aqueles que se rebelam. 2Com efeito, a mulher de Ló, que tinha saído junto com ele, foi colocada como sinal: ela se tornou coluna de sal até hoje, a fim de que todos saibam que os dúplices de coração e que duvidam do poder de Deus tornam-se julgamento e sinal para todas as gerações.
Raab
12. 1Por causa da fé e da hospitalidade, a prostituta Raab foi salva. 2Quando Jesus, filho de Nave, mandou os exploradores a Jericó, o rei da região soube que eles tinham vindo para espionar a sua terra e mandou homens para prendê-los, e, uma vez presos, matá-los. 3A hospitaleira Raab, que os tinha acolhido, escondeu-os no andar superior, sob os feixes de linho. 4Quando os emissários do rei chegaram, disseram a ela: “Aqueles que vieram para espionar a nossa terra, entraram em tua casa. Faze-os sair. É ordem do rei[11].” Ela respondeu: “De fato, os homens que procurais entraram em minha casa; porém saíram logo e estão seguindo seu caminho”. E ela indicou-lhes o caminho oposto. 5Depois disse aos homens: “Eu sei muito bem que o Senhor Deus vos entrega esta terra. Com efeito, aqueles que a habitam estão tomados de espanto e terror por vossa causa. Portanto, quando tiverdes tomado posse desta terra, salvai-me junto com a casa de me pai.” 6Eles responderam:”Acontecerá como nos disseste. Quando perceberes que estamos chegando, reúne todos o seus debaixo do teu teto, e serão salvos, pois todos os que forem encontrados fora da casa serão mortos.” 7Além disso, deram-lhe um sinal: pendurar na casa algo escarlate. Dessa forma, tornavam claro que o sangue do Senhor resgataria todos aqueles que acreditam e esperam em Deus. 8Vede, caríssimos, que nessa mulher havia não só a fé, mas também a profecia.
d. Humildade e Mansidão
13. 1Portanto, irmãos, sejamos humildes, depondo todos os sentimentos de jactância, de vaidade, de insensatez e de cólera, e pratiquemos o que está escrito. De fato, o Espírito Santo diz: “Que o sábio não se glorie de sua sabedoria, nem se farte de sua força, nem o rico de sua riqueza; aquele que se gloria, glorie-se no Senhor, por procurá-lo e praticar o direito e a justiça[12].” Lembremo-nos, sobre tudo, das palavras do Senhor Jesus, quando ele ensinava sobre a benevolência e a paciência. 2Assim dizia: “Sede misericordiosos, a fim de que sejais tratados com misericórdia; perdoai, para que vos seja perdoado; da mesma forma com que agirdes, também agirão convosco[13]; da mesma forma como dais, assim também vos darão; do modo como julgais, assim também vos julgarão; do modo como tratais com bondade, assim também vos tratarão; a medida que usais é a mesma que usarão para convosco.” 3Fortalecamos-nos a nós mesmos com esse mandamento e esses preceitos, a fim de caminhar com espírito de humildade, submissos às suas santas palavras. Com efeito, eis o que diz a palavra santa: “Para quem voltarei meu olhar senão para o homem manso e pacífico, que treme diante de minhas palavras[14]?
Contra os orgulhosos
14. 1Portanto, irmãos, é justo e santo obedecer a Deus, mais do que seguir aqueles que, por orgulho e revolta, se tornaram chefes de odiosa inveja. 2Nós nos expomos, não a um prejuízo comum, mas a um perigo grave, se nos deixarmos levar temerariamente pelos projetos desses homens, que se atiram à competição e à revolta, para nos afastarem do bem. 3Sejamos bons uns para com os outros, conforme a compaixão e a doçura daquele que nos fez. 4Está escrito: “Os bons habitarão a terra e os inocentes serão deixados sobre ela, mas os pecadores serão exterminados dela.[15]” E diz ainda: “Vi o ímpio exaltado, elevado como os cedros do Líbano; passei, e não existia mais; procurei o lugar em que estava, e não o encontrei. Guarda a inocência e observa a retidão, porque existe uma posteridade para o homem pacífico[16].
15. 1Unamo-nos, portanto, àqueles que vivem piedosamente a paz, e não àqueles que fingem querer a paz. 2Com efeito, em algum lugar se diz: “Este povo me honra com os seus lábios, mas seu coração está longe de mim.” 3E mais: “Com sua boca bendiziam, mas com seu coração maldiziam.” 4E diz ainda: “Eles o amaram com a boca, mas com a língua lhe mentiram. O coração não foi reto com ele, e não permaneceram fiéis à aliança dele.” 5Por isto, “emudeçam os lábios enganosos que falam iniqüamente contra o justo.” E ainda: “Que o Senhor faça perecer todos os lábios enganosos, a língua arrogante daqueles que dizem: ‘Tornaremos nossa língua poderosa, e nossos lábios nos pertencem. Quem estaria, Senhor, acima de nós?’ 6Por causa da miséria dos pobres e do gemido dos indigentes, eu me levantarei, Senhor. Eu os porei a salvo, 7e falarei abertamente com eles[17]
[11] Para este cap., cf. Js 2
[13] Cf. Mt 5,7; 6,12.14
[17] Is 29,13Mt 15,8Sl 61,5; 77,36-37; 30,19; 11,4-6
Cristo servidor
16. 1Cristo está entre os humildes, e não entre aqueles que se sobrepõem ao seu rebanho. 2O Senhor Jesus Cristo, cetro da majestade de Deus, não veio, embora pudesse, no alarde da arrogância ou da soberba, mas humilde, conforme o Espírito Santo havida dito sobre ele. De fato, ele diz: 3“Senhor, quem acreditou em nossa voz? A quem foi revelado o braço do Senhor? Nós anunciamos na presença dele. Ele é como criança, como raiz em terra sedenta. Ele não tem aparência, nem beleza; seu aspecto era desprezível, não tinha sequer a aparência de homem. Era homem de dor e sofrimento, que sabe suportar a fraqueza, cujo rosto é evitado, desprezado e não levado em conta. 4Ele carrega nossos pecados e sofre por nós. E nós o contemplamos entregue ao sofrimento, à dor e aos maus tratos. Ele foi ferido por causa de nossos pecados e maltratado por causa de nossas iniqüidades. A correção que nos trouxe a paz caiu sobre ele, e por suas chagas fomos curados. 6Como ovelhas, todos nós andávamos errantes; o homem se havia desviado de seu caminho. 7O Senhor o entregou por causa de nossos pecados, e ele não abriu a boca ao ser maltratado. Como ovelha, foi conduzido ao matadouro; como cordeiro mudo diante do tosquiador, não abriu a boca. Na humilhação, a sua sentença foi retirada. 8Quem explicará sua geração? De fato, sua vida foi tirada da terra. 9Foram as iniqüidades do meu povo que o levaram à morte. 10Entregarei os malvados em troca da sepultura dele e os ricos em troca de sua morte, porque ele não cometeu iniqüidade, nem foi achado engano em sua boca. E o Senhor quis purificá-lo das chagas. 11Se fizerdes oferendas pelo pecado, vossa alma verá uma longa descendência. 12O Senhor quis livrá-lo do sofrimento de sua alma, mostrar-lhe a luz, plasmá-lo na inteligência, justificar um justo que se faz servidor de muitos; e ele carregará o pecado deles. Por isto ele herdará e repartirá os despojos dos fortes, por ter sido entregue à morte e ter sido contado entre os ímpios. 14Ele carregou os pecados de muitos e foi entregue por causa dos pecados deles[1].” E ele ainda diz: “Sou verme, e não homem, o próprio dos homens e desprezo do povo. 16Todos os que me viram, zombaram de mim, cochicharam com os lábios e sacudiam a cabeça: ‘Ele esperou no Senhor. Que o liberte, que o salve, pois o ama.’[2]” 17Caríssimos, vede o modelo que nos foi dado! Se o Senhor se humilhou dessa maneira, que faremos nós que, por meio dele, fomos, colocados sob o julgo de sua graça?
Humildade dos santos
17. 1Sejamos imitadores dos que caminhavam em pele de cabra e de ovelha, anunciando a vinda de Cristo. Referimo-nos a Elias e Eliseu, e também Ezequiel e dos profetas, e além desses àqueles de quem Deus deu testemunho. 2Abraão recebeu grande testemunho e foi chamado amigo de Deus. No entanto, quando fixou seu olhar na glória de Deus, ele disse com humildade: “Eu sou terra e cinza”. 3E eis, a respeito de Jó, o que está escrito: “Jó foi justo e irrepreensível, veraz, piedoso, afastado de todo mal[3].” 4Ele, porém, ainda se acusa: “Ninguém está limpo de sujeira, mesmo que tenha vivido apenas um dia[4].” Moisés foi chamado “fiel em toda a sua casa”, e foi o servidor por meio do qual Deus castigou os egípcios com as pragas e flagelos que sofreram. E, no entanto, não obstante toda a sua glória, não se vangloriou soberbamente. Ao contrário, quando lhe foi transmitido o oráculo da sarça, ele disse: “Quem sou eu, para que me envies? Eu tenho a voz fraca e a língua pesada[5].” 6E diz ainda: “Eu sou vapor que sai da panela[6].”
18. 1Que diremos do testemunho dado por Deus sobre Davi? Deus lhe disse: “Encontrei um homem segundo o meu coração: Davi, filho de Jessé. Na minha eterna misericórdia eu o ungi.” 2No entanto, é ele que diz a Deus: “Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua grande misericórdia, e a tua imensa compaixão apague a minha iniqüidade. Lava-me da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado, porque eu reconheço a minha iniqüidade, e o meu pecado está continuamente diante de mim. 4Pequei somente contra ti, e fiz o que é mau diante de ti. Assim, serás encontrado justo em tuas palavras e triunfarás quando fores chamado em juízo. 5Vê! Fui concebido na iniqüidade, e no pecado minha mãe me levou. 6Vê! Tu amaste e verdade e me mostraste os segredos invisíveis da sabedoria. 7Tu me aspergirás com o hissopo, e eu serei purificado; tu me lavarás, e meu me tornei mais branco do que a neve. 8Tu me farás ouvir alegria e contentamento, e meus ossos humilhados transbordarão de alegria. 9Afasta o teu olhar de meus pecados, e apaga todas as minhas iniqüidades. 10Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova um espírito reto em minhas entranhas. 11Não me rejeites para longe de tua face, e não retires de mim o teu santo espírito. 12Concede-me a alegria da tua salvação e fortifica-me com espírito que me guie. 13Ensinarei os teus caminhos aos malfeitores, e os ímpios se converterão para ti. 14Livra-me do sangue, ó Deus, Deus da minha salvação. 15Na alegria, a minha língua celebrará tua justiça. Senhor, tu abrirás minha boca, e meus lábios anunciarão o teu louvor. 16Se quisesses um sacrifício, eu o ofereceria; os holocaustos, porém, não te agradariam. 17O sacrifício, para Deus, é um espírito contrito. Coração contrito e humilhado Deus não desprezará[7].”
19. 1Assim, a humildade e a modéstia, vividas pela obediência desses homens sobre os quais Deus testemunhou, tornou melhores não somente a nós, mas também às gerações que nos precederam, àqueles que acolheram suas palavras no temor e na verdade.
e. A Paz e a concórdia
2Participantes, portanto, de muitas ações grandes e gloriosas, corremos para a meta de paz, que nos foi dada desde o princípio, e contemplamos o Pai e Criador de todo universo. Apeguemo-nos a seus dons de paz e a seus benefícios magníficos e sublimes. 3Contemplamo-lo com o pensamento e fixemos com os olhos da alma a paciência da sua vontade; consideremos como ele age sem ira em toda a sua criação.
A harmonia do cosmos
20. 1Os céus, que se movem por sua disposição, lhe obedecem harmoniosamente. 2O dia e a noite realizam o curso que ele estabeleceu, sem tropeçar um no outro. 3O sol, a lua e os coros dos astros giram harmoniosamente conforme sua ordem e, sem nenhuma transgressão, dentro dos limites que ele determinou. 4A terra, germinando conforme a vontade dele, produz, nos devidos tempos, abundantíssimo sustento para os homens, as feras e todos os seres que vivem sobre ela, sem nunca se rebelar, nem mudar nada do que por ele foi decretado. 5Com as mesmas ordens, se mantêm as regiões insondáveis dos abismos e as leis inescrutáveis que regem o mundo subterrâneo. 6A massa do mar imenso, que na sua criação foi recolhida em seus reservatórios, não ultrapassa os limites traçados, mas age conforme foi ordenado. 7De fato, ele lhe disse: “Chegarás até aqui, e tuas ondas sobre ti se quebrarão[8].” 8O oceano, sem fim para os homens, e os mundos que estão além, são dirigidos pelas mesmas leis do Senhor. 9As estações da primavera, do verão, do outono e do inverno sucedem-se harmoniosamente uma após a outra. 10Os reservatórios dos ventos realizam seu trabalho no tempo devido e sem perturbação. As fontes inesgotáveis, criadas para o prazer e a saúde, não cessam de estender aos homens suas mamas portadoras de vida. Os menores animais se reúnem na paz e na concórdia. 11O grande Criador e Senhor do universo ordenou que todas essas coisas se executem na paz e na concórdia. De fato, ele espalha seus benefícios sobre toda a criação, mas a nós ele os prodigaliza superabundantemente, quando recorremos à sua misericórdia por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. 12A ele a glória e a majestade pelos séculos dos séculos. Amém.
Harmonia na comunidade
21. 1Caríssimos, vigiai para que seus numerosos benefícios não se tornem condenação para nós, caso não vivamos de maneira digna dele, realizando na concórdia o que é bom e agradável aos seus olhos. Com efeito, em algum se diz: “O espírito do Senhor é lâmpada que perscruta as profundezas das entranhas[9].” 3Consideremos que ele está próximo e que nada lhe escapa de nossos pensamentos e de nossas decisões interiores. 4É justo, portanto, que não abandonemos nosso lugar contra a vontade dele. 5É melhor estar em conflito com os homens ignorantes, faltos de bom senso, soberbos e jactanciosos em seus arrogantes discursos, do que estar em conflito com Deus. 6Veneremos o Senhor Jesus Cristo, cujo sangue foi dado em nosso favor; respeitemos aqueles que nos guiam; honremos os anciãos; instruamos os jovens, ensinando-lhes o temor de Deus; dirijamos nossas mulheres no reto caminho do bem. 7Que elas mostrem em si mesmas o amável hábito da castidade; que provem com doçura sua resolução sincera; que manifestem a moderação de sua língua, por meio de seu silêncio; que exerçam a caridade, não com parcialidade, mas na santidade e na equidade em relação a todos aqueles que temem a Deus. 8Que nossos filhos participem da educação em Cristo; aprendam qual é o poder da humildade junto de Deus; qual o poder do amor casto junto dele; como o temor de Deus é belo, como é grande e como salva aqueles que vivem santamente nele, de coração puro! 9Com efeito, ele perscruta nossos pensamentos e intenções. Seu sopro está em nós e, quando quiser, ele o retomará.
[5] Ex 3,11; 4,10
[6] Citação de origem desconhecida
II. FIDELIDADE DE DEUS PARA COM OS ÍNTEGROS
Deus ouve os corações simples
22. 1A fé em Cristo garante todas essas coisas. Com efeito, é ele que nos convida por meio do Espírito Santo: “Vinde, filhos, escutai-me. Eu vos ensinarei o temor do Senhor. 2Qual é o homem que deseja a vida, querendo ver dias felizes? 3Guarda tua língua do mal e teus lábios de palavras enganadoras. 4Afasta-te do mal, e pratica o bem. 5Busca a paz, e persegue-a. 6Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e seus ouvidos estão atentos às suas súplicas; mas a face do Senhor se volta contra os que praticam o mal, para extirpar da terra a lembrança deles. 7O justo gritou; o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. 8Muitas são as aflições do pecador, mas a misericórdia envolverá aqueles que esperam no Senhor[1].”
23. 1O Pai misericordioso e benevolente tem o coração em tudo voltado para os que o temem e, com doçura e suavidade, oferece as suas graças aos que dele se se aproximam com simplicidade de coração. 2Também não tenhamos a alma dividida, e que nosso espírito não se inche por causa de seus dons superabundantes e magníficos.
Os projetos de Deus se cumprem
3Longe de nós esta Escritura, onde se diz: “Infelizes os que têm a alma dividida, aqueles que duvidam em seu íntimo, e dizem: ‘Já ouvimos essas coisas no tempo de nossos pais. Eis, porém, que envelhecemos e nada disso nos aconteceu’. 4Insensatos! Comparai-vos a uma árvore; tomai como exemplo a videira. Primeiro, ela perde as folhas; em seguida, nasce um broto; depois, uma folha; depois, uma flor; depois disso, a uva verde e finalmente surge o cacho maduro[2].” Vede: em pouco tempo, o fruto da árvore amadurece. 5Na verdade, rápida e aproximadamente e cumprirá o desejo de Deus. De fato, a Escritura também dá testemunho: “Ele virá rapidamente, e não tardará[3].” E mais: “O Senhor, o Santo que esperais, virá logo ao seu templo[4].”
A ressurreição futura
24. 1Caríssimos, consideremos como o Senhor nos manifesta sem cessar a ressurreição futura, cujas primícias ele as concedeu no Senhor Jesus Cristo, ressuscitando-o dos mortos.
Figurada na natureza
2Caríssimos, vejamos a ressurreição que acontece no tempo marcado. 3O dia e a noite nos mostram uma ressurreição: a noite se põe, o dia se levanta; o dia se vai, a noite aparece. 4Tomemos os frutos. Como e em que lugar germina a semente? O semeador saiu e lançou na terra cada uma das sementes. Estas, caindo por terra secas e nuas, se dissolvem; depois, a partir da própria desagregação, a magnífica providência do Senhor as faz ressuscitar, e de uma única semente crescem muitas e produzem fruto.
Simbolizada pela fênix
25. 1Vejamos o estranho sinal que se verifica nas regiões do Oriente, isto é, nas regiões da Arábia. 2Aí existe um pássaro ao qual dão o nome de fênix[5]. Ele único na sua espécie, e vive quinhentos anos. Quando está para morrer, faz para si o ninho com incenso, mirra e outras plantas aromáticas, no qual, chegada a hora, entra e aí morre. 3Da carne em putrefação nasce um verme que, nutrindo-se com os humores do animal morto, cria asas. Depois, ao adquirir força, pega o ninho onde jazem os ossos de seu antepassado e, carregando-o, vai da região da Arábia para o Egito, até o lugar chamado Heliópolis. 4De dia, aos olhos de todos voando até o altar do sol, depõe aí o ninho e a seguir retorna para o lugar de onde veio. 5Os sacerdotes consultam os anais e constatam que ele chegou ao se completarem quinhentos anos.
26. 1Portanto, será que vamos julgar coisa grande e extraordinária que o Criador do universo ressuscite aqueles que o serviram santamente na confiança da fé sincera, se mediante um pássaro ele nos mostra a grandeza do que anunciou?
Predita nas Escrituras
2De fato, em algum lugar se diz: “Tu me ressuscitarás, e eu cantarei teus louvores”. E mais: “Deitei e adormeci; acordei, porque estavas comigo.” 3E Jó diz ainda: “Tu ressuscitarás minha carne, que suportou todas essas coisas[6].”
Deus é veraz e todo-poderoso
27. 1Nessa esperança, nossas almas se juntam àquele que é fiel nas promessas e justo nos julgamentos. 2Aquele que ordena não mentir. 3Reacenda-se, portanto, em nós a fé nele, e reflitamos que todas as coisas estão próximas dele. 4Com uma palavra sua de majestade, ele constituiu todas as coisas, e com uma palavra ele pode destruí-las. 5“Quem lhe perguntará: ‘Que fizeste?’ Ou quem resistirá ao poder de sua força?” Ele fará tudo o que quiser e como quiser, e nada passará daquilo que foi por ele decretado. 6Tudo é presente para ele, e nada escapa à sua vontade. Pois “os céus narram a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos; o dia a transmite ao dia, e a noite a dá conhecer à noite; não existem palavras, nem línguas que não ouçam suas vozes[7].”
28. 1Portanto, se tudo ele vê e ouve, temamo-lo e destruamos os desejos impuros das ações vis, para que sejam protegidos, pela sua misericórdia, dos julgamentos futuros. 2De fato, para onde alguém de nós poderá fugir de sua mão poderosa? Qual mundo dará refúgio a quem dele desertou? De fato, a Escritura diz em algum lugar: 3“Aonde irei e me esconderei de sua face? Se subo até o céu, aí estás, se vou até aos confins da terra, aí está a tua direita; se deito nos abismos, aí está o teu espírito[8].” Para onde alguém pode se retirar? Para onde fugir, longe daquele que tudo abrange?
Sejam dignos de sua escolha
29. 1Portanto, aproximemos-nos dele na santidade de alma, erguendo para ele mãos puras e sem mancha e amando nosso Pai benévolo e misericordioso, que nos fez participar de sua escolha. 2Com efeito, assim está escrito: “Quando o altíssimo repartiu as nações, ao disseminar os filhos de Adão, estabeleceu as fronteiras das nações conforme o número dos anjos de Deus. A porção do Senhor foi o seu povo Jacó, o lote de sua herança foi Israel[9].” E em outro lugar diz: “Eis que o Senhor toma para si uma nação dentre as nações, como um homem toma para si a primícia de sua colheita. E dessa nação sairá o santo dos santos.”
30. 1Portanto, formaremos uma porção santa, praticando tudo o que santifica, fugindo da maledicências, das ligações impuras e manchadas, da embriaguez, do prurido de novidades, das posições vis, do adultério infame, do orgulho odioso. 2De fato, foi dito que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede a graça aos humildes.” 3Unamonos, portanto, aos que receberam a graça de Deus; revistamo-nos da concórdia, conservando-nos humildes, castos, longe dos murmuradores e dos maledicentes, justos com obras e não palavras[10]4Com efeito, foi dito: “Aquele que fala muito, deveria também escutar. Por acaso, o loquaz pensa que é justo? 5Bendito seja aquele que nasceu de mulher cuja vida é curta. Não te alongues em palavras.” 6Que o nosso louvor venha de Deus e não de nós mesmos. Deus detesta os que louvam a si próprios. 7Que outros dêem testemunho de nossas boas ações, como foi dado a nossos justos antepassados. 8Imprudência, presunção, temeridade são próprias dos amaldiçoados por Deus; benevolência, humildade, mansidão estão com aqueles que são abençoados por Deus.
Sejamos dignos da benção de Deus
31. 1Unamo-nos, portanto, à sua benção, e vejamos quais são os caminhos da benção. Retomemos os acontecimentos desde o começo. 2Por qual motivo nosso pai Abraão foi abençoado, senão por ter praticado a justiça e a verdade pela fé? Isaac se deixou voluntariamente conduzir confiante para o sacrifício, porque conhecia o futuro. 4Com humildade, Jacó deixou sua terra por causa do irmão, foi para junto de Labão e o serviu; e lhe foram dados os doze cetros de Israel.
32. 1Se os consideramos sinceramente um por um, reconheceremos a grandeza dos dons concedidos por Deus. 2Com efeito, dele (Jacó) vieram todos os sacerdotes e levitas, ministros do altar de Deus; dele veio o Senhor Jesus segundo a carne; dele vieram os reis, príncipes e chefes segundo Judá. Quanto aos outros cetros seus, não são de pequena glória, conforme a promessa de Deus: “Tua posteridade será como as estrelas do céu.”
Só Deus justifica
3Portanto, todos foram glorificados e engrandecidos, não por eles mesmos, nem por suas obras, nem pela justiça dos atos que praticaram, e sim por vontade dele. Por conseguinte, nós que por sua vontade fomos chamados em Jesus Cristo, não somos justificados por nós mesmos, nem pela nossa sabedoria, piedade ou inteligência, nem pelas obras que realizamos com pureza de coração, e sim pela fé, é por ela que Deus Todo-poderoso justificou todos os homens desde as origens. A ele seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Mas é preciso fazer o bem
33. 1Que faremos então irmãos? Cessaremos de fazer o bem e abandonaremos a caridade? Jamais permita o Senhor que isso aconteça entre nós! Ao contrário, esforcemo-nos com zelo e ardor para praticar toda obra boa. 2O próprio Criador e Senhor se alegra com todas as suas obras. 3Com seu soberano poder, ele fixou os céus e, com sua incompreensível inteligência, os ordenou. Ele separou a terra da água que a circunda, e estabeleceu sobre o fundamento sólido de sua vontade. Por sua disposição, chamou à existência os animais que nela se movem. Com seu poder, preparou o mar e os animais que aí vivem, e fixou limites para eles. 4Acima de tudo, com suas mãos sagradas e puras, plasmou o ser superior e soberano, o homem, como marca de sua própria imagem. 5Com efeito, assim diz Deus: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. E Deus fez o homem, macho e fêmea os fez[11].” 6Quando ele terminou todas as coisas, aprovou-as, abençoou-as, e disse: “Crescei e multiplicai-vos[12].” 7Vemos que todos os justos foram ornados com boas obras, e o próprio Senhor, ornado com suas obras, se alegrou. 8Portanto, tendo esse modelo, guiemo-nos, sem tardar, segundo sua vontade; com toda a nossa força, apliquemo-nos à prática da justiça.
34. 1O bom operário recebe o pão do seu trabalho com a cabeça erguida; o preguiçoso e negligente não olha a face de seu empregador. 2É preciso, portanto, que sejamos prestimosos em fazer o bem. Com efeito, é dele que provém todas as coisas. 3Ele declara: “Eis o Senhor; seu salário está diante dele, para retribuir a cada um segundo a sua obra[13].” 4Portanto, ele nos exorta a crer nele de todo o coração, não sendo inoperantes e desleixados em nenhuma boa obra.
Servir como os anjos
5Seja ele o nosso orgulho e franqueza. Submetamo-nos à sua vontade. Consideremos como toda a multidão de seus anjos, estando junto dele, estão a serviço de sua vontade. 6De fato, a Escritura diz: “Miríades e miríades estão junto dele; milhares e milhares estão a seu serviço. E eles gritam: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos! Toda a criação está cheia de sua glória[14].” 7Também nós, na concórdia, unidos na mesma consciência, como uma só boca, chamemos a ele com insistência, a fim de que tenhamos parte nas suas grandes e magníficas promessas. 8Ele, de fato, diz: “Nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, e não entrou no coração do homem aquilo que Deus preparou para aqueles que o esperam[15].”
Lutar pelos dons de Deus
35. 1Caríssimos, como são felizes e admiráveis os dons de Deus! 2A vida na imortalidade, o esplendor na justiça, a verdade na franqueza, a fé na confiança, o domínio de si na santidade: todas essas coisas são acessíveis à nossa inteligência. 3Quais são as coisas preparadas para aqueles que a esperam? O Criador e Pai dos séculos, o Santíssimo, conhece a quantidade e a beleza delas. 4Nós, portanto, lutamos para sermos encontrados no número dos que esperam, a fim de participarmos dos dons prometidos. 5No entanto, caríssimos, como acontecerá isso? Acontecerá se a nossa mente estiver fielmente voltada para Deus, se procurarmos aquilo que é aceito por ele e que lhe agrada, se cumprirmos aquilo que convém à sua vontade irrepreensível e se seguirmos o caminho da verdade, afastando de nós toda injustiça e maldade, avareza, rixas, perversidades e enganos, murmurações e maledicências, recusa de Deus, orgulho e jactância, vanglória e inospitalidade. 6Aqueles que praticam tais coisas são odiados por Deus, “não só os que as praticam, mas também os que as aprovam.” 7De fato, a Escritura diz: “Deus disse ao pecador: Por que recitas minhas decisões e tens minha aliança em tua boca? 8Odiaste a instrução e atiras-te para trás as minhas palavras. Quando vias um ladrão, corrias atrás dele, e tinhas a tua porção entre os adúlteros. Tua boca transbordava de maldade e tua língua tramava o engano. Tu assentavas, falavas contra teu irmão e preparavas armadilhas contra o filho de tua mãe. 9Tu fizeste isso, e eu me calei. Ímpio, tu supunhas que eu fosse igual a ti. 10Eu te confundirei e te colocarei diante de ti mesmo. 11Compreendei isso, vós que vos esqueceis de Deus, para que ele não vos ataque com leão, e não haja quem vos liberte. 12Um sacrifício de louvou me dará glória; esse é o caminho pelo qual lhe mostrarei a salvação de Deus[16].”
Jesus Cristo, caminho de salvação
36. 1Caríssimos, este é o caminho no qual encontramos a nossa salvação: Jesus Cristo, o sumo sacerdote de nossas ofertas, o protetor e o auxílio de nossa fraqueza. 2Por meio dele, fixamos nosso olhar nas alturas dos céus; por meio dele, contemplamos, como em espelho, sua face imaculada e incomparável; por meio dele, abriram-se os olhos do nosso coração; mediante ele, nossa mente obtusa e obscura refloresce para a luz; mediante ele, o Senhor quis fazer-nos experimentar o conhecimento imortal. “De fato, sendo ele, o resplendor de sua majestade, é tanto superior aos anjos quanto o nome que herdou é mais excelente.” 3Assim está escrito: “Ele fez dos ventos mensageiros seus e de chama de fogo o seus servidores.” 4Asim diz o Senhor a respeito do seu Filho: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações como tua herança, e teus serão os confins da terra.” 5E lhe diz ainda: “Senta à minha direita, até que eu coloque os teus inimigos como estrado para teus pés[17].” 6Quais são os inimigos? São os malfeitores e aqueles que se opõem à sua vontade.
[1] Sl 33,12-18; 31,10
[2] Citação de origem desconhecida
[5] Ave fabuloza da Etiópia, que deu origem a uma das lendas mais difundidas da antiguidade. Do tamanho de uma águia real, plumagem de cores esplêndidas. Renasce das próprias cinzas. A nova fêlix voa até Heliópolis do Egito, centro do culto do sol ao qual a fênix está associada. O III Baruch 6-8 descreve o papel da fênix em relação ao sol.
[6] Cf. Sl 27,7; 87,11; 3,6; 22,4; Jó 19,26
[10] Pr 3,34; 1P 5,5
[14] Cf. Is 6,3
[16] Cit. De origem desconhecida
III. DISCIPLINA COMUNITÁRIA
a. Subordinação Mútua
37. 1Irmãos, militemos com toda nossa prontidão sob as ordens irrepreensíveis dele. 2Consideremos os soldados que servem sob as ordens de nossos governantes: com que disciplina, docilidade e submissão eles executam as funções que lhes são designadas! 3Nem todos são comandantes, nem chefes de mil, nem chefes de cem, nem chefes de cinqüenta, e assim por diante. Cada um, porém, no seu próprio posto, executa aquilo que lhe é prescrito pelo rei e pelos governantes.
O corpo e os membros
4Os grandes não podem existir sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes; em tudo há certa mistura, e nisso há uma necessidade. 5Tomemos o nosso corpo: a cabeça não é nada sem os pés, nem os pés sem a cabeça; os menores membros do nosso corpo são necessários e úteis ao corpo inteiro, mas todos convivem e têm subordinação mútua para a saúde do corpo inteiro.
38. 1Conservemos, portanto, todo o nosso corpo em Cristo Jesus, e cada um seja submisso a seu próximo, conforme o dom que lhe foi conferido.
Os dons para servir
2O forte cuide do fraco, e o fraco respeite o forte; o rico socorra o pobre, e o pobre agradeça a Deus porque lhe deu alguém para suprir a sua indigência. Que o sábio mostre sua sabedoria, não em palavras, mas em boas obras. Que o humilde não dê testemunho de si mesmo, mas deixe que outro testemunhe em seu favor. Que o puro em seu corpo não se vanglorie disso, pois sabe que é outro quem lhe concede a continência. 3 Reflitamos, portanto, irmãos, sobre a matéria de que fomos feitos; como e quem éramos, quando entramos no mundo; de que túmulo e de que trevas, aquele que nos modelou e criou nos introduziu no mundo que lhe pertence. Ele preparou seus benefícios antes que tivéssemos nascido. 4Dele recebemos tudo, e tudo lhe devemos agradecer. A ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
39. 1Os ignorantes, os insensatos, os loucos e os grosseiros caçoam e zombam de nós, querendo se exaltar com seus próprios pensamentos. 2De fato, o que pode fazer o mortal? Qual é a força de quem nasce da terra? 3Com efeito, está escrito: “Não havia nenhuma forma diante dos meus olhos, mas eu ouvia um sopro e uma voz. 4O que seria? Um mortal poderá ser puro diante do Senhor? O homem poderá ser irrepreensível nas suas obras, quando Deus não confia sequer em seus servos e descobre erros até em seus anjos? 5Nem mesmo o céu é puro diante dele. O que será, então, dos que moram em casas de argila, entre os quais estamos nós, formados da mesma argila? Ele os esmagou como se esmaga um verme; entre o amanhecer e a tarde, eles não existem mais: pereceram, não podendo encontrar auxílio em si próprios. 6Ele soprou sobre eles, e morreram, porque não tinham sabedoria. 7Agora, invoca, para ver se alguém te escuta. Verás talvez um dos santos anjos. A ira arruína o insensato e a inveja mata o transviado. 8Vi insensatos lançarem raízes, mas logo a sua vida foi devorada. 9Que seus filhos fiquem longe da salvação; sejam desprezados junto às portas dos mais pobres, e não haja ninguém para libertá-los. Os justos comerão o que estava preparado para esses tais, que não serão libertados de seus males[1].”
b. Hierarquia Levítica e Ordem Eclesiástica
40. 1Essas coisas são evidentes para nós, pois descemos às profundidades do conhecimento divino. Devemos fazer com ordem tudo o que o Senhor nos mandou realizar nos tempos determinados. 2Ele ordenou que as ofertas e as funções litúrgicas fossem realizadas, não ao acaso ou desordenadamente, mas em circunstâncias e horas determinadas. 3Ele próprio, por soberana vontade, determinou onde e por quem deseja que as coisas sejam realizadas, a fim de que cada coisa, feita santamente com a sua santa aprovação, seja agradável à sua vontade. 4Aqueles, portanto, que apresentam suas ofertas nos tempos determinados, são agradáveis e felizes, pois seguindo os preceitos do Senhor, eles não erram. 5Ao sumo sacerdote foram confiados ofícios litúrgicos particulares; aos sacerdotes foi designado seu lugar particular; e aos levitas foram impostos serviços particulares. O leigo está ligado aos preceitos leigos.
41. 1Irmãos, cada um de nós, no seu próprio lugar, agradeça a Deus, agindo com boa consciência, com dignidade, sem violar as regras que foram determinadas para sua função. 2Irmãos, não é em qualquer lugar que se oferecem sacrifícios, sacrifício perpétuo ou sacrifícios votivos, sacrifícios pelo pecado e sacrifícios expiatórios, mas somente em Jerusalém. E mesmo nesta cidade, não se oferece em qualquer lugar, mas diante o santuário, no altar, depois de minucioso exame da vítima, feito pelo sumo sacerdote e pelos ministros mencionados acima. 3Aqueles que não agem conforme a vontade dele, merecem a pena de morte. 4Como vedes, irmãos, quanto maior é o conhecimento de que fomos julgados dignos, maior é o perigo ao qual ficamos expostos.
A sucessão apostólica
42. 1Os apóstolos receberam do Senhor Jesus Cristo o Evangelho que nos pregaram. Jesus Cristo foi enviado por Deus. 2Cristo, portanto, vem de Deus, e os apóstolos vêm de Cristo. As duas coisas, em ordem, provêm, da vontade de Deus. 3Eles receberam instruções e, repletos de certeza, por causa da ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, fortificados pela palavra de Deus e com plena certeza dada pelo Espírito Santo, saíram anunciando que o Reino de Deus estava para chegar. 4Pregavam pelos campos e cidades, e aí produziam sua primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas bispos e diáconos dos futuros fiéis. 5Isso não era algo novo: desde há muito tempo, a Escritura falava dos bispos e dos diáconos. Com efeito, em algum lugar está escrito: “Estabelecerei seus bispos na justiça e seus diáconos na fé[2].”
O caso típico de Aarão
43. 1Por que se espantar, se aqueles que tinham fé em Cristo, estabeleceram, como obra de Deus elas, os ministros, de quem acima falamos? O bem-aventurado Moisés, fiel servidor em toda a casa, também consignou nos livros sagrados tudo o que lhe foi ordenado. Os outros profetas o acompanharam, dando testemunho das normas estabelecidas por ele. 2Quando apareceu um conflito a respeito do sacerdócio, e as tribos disputavam sobre qual delas seria ornada com o nome glorioso, Moisés ordenou que cada um dos doze chefes das tribos lhe trouxessem uma vara com o nome de sua tribo nela inscrito. Depois, as tomou e amarrou, selou-as com os anéis dos chefes de tribo, e as colocou na tenda do testemunho, sobre a mesa de Deus. 3E após fechar a tenda, selou as chaves, da mesma forma que fizera com as varas. 4Disse então a eles: “Irmãos, a tribo cuja vara brotar, é a que Deus escolheu para exercer o sacerdócio e oficiar diante dele[3].” 5De manhã, convocou todo o Israel, cerca de seiscentos mil homens, mostrou os selos aos chefes das tribos, abriu a tenda do testemunho, e tirou daí as varas. Verificou-se, então, que a vara de Aarão não só tinha brotado, mas também der fruto. 6Que achais disso, caríssimos? Será que Moisés não previa que isso iria acontecer? Claro que sim. Ele assim procedeu para que não houvesse em Israel desordem e para que fosse glorificado o nome do Deus único e verdadeiro. A ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Bispos e presbíteros
44. 1Nossos apóstolos conheciam, da parte do Senhor Jesus Cristo, que haveria disputas por causa da função episcopal. 2Por este motivo, prevendo exatamente o futuro, instituíram aqueles de quem falávamos antes, e ordenaram que, por ocasião de morte desses, outros homens provados lhes sucedessem no ministério. 3Os que foram estabelecidos por eles ou por outros homens eminentes, com a aprovação de toda a Igreja, e que serviram irrepreensivelmente ao rebanho de Cristo, com humildade, calma e dignidade, e que durante muito tempo receberam o testemunho de todos, achamos que não é justo demiti-los de sua funções. 4Para nós, não seria culpa leve se exonerássemos do episcopado aqueles que apresentaram os dons de maneira irrepreensível e santa. 5Felizes os presbíteros que percorreram seu caminho e cuja vida terminou de modo fecundo e perfeito. Eles não precisam temer que alguém os afaste do lugar que lhes foi designado. 6E nós vemos que, apesar da ótima conduta deles, removestes alguns da funções que exerciam de modo irrepreensível e honrado.
[3] Nm 17,12.16-26
IV. ADMOESTAÇÕES URGENTES
Os justos são perseguidos
45. 1Irmãos, sede cheios de imitação e zelo no que se refere à salvação. 2Vós vos curvastes sobre as Sagradas Escrituras, essas verdadeiras Escrituras dadas pelo Espírito Santo. 3Sabeis que nada de injusto e de falso está escrito nelas. Não encontrareis que os justos tenham sido rejeitados por homens santos. 4Os justos foram perseguidos, mas pelos injustos; foram aprisionados, mas pelos ímpios; foram apedrejados, mas pelos iníquos; foram mortos pelos que tinham sido tomados de inveja perversa e má. 5Eles suportaram gloriosamente esses sofrimentos. 6Que poderemos dizer disso, irmãos? Será que Daniel foi atirado na cova dos leões pelos que temiam a Deus? 7Será que Ananias, Azarias e Misael foram trancados numa fornalha ardente pelos que praticavam o culto elevado e glorioso do Altíssimo? Claro que não. Quais foram então os que praticaram tais atos? Pessoas detestáveis, cheias de todo tipo de maldade, tão enraivecidas no seu furor, que entregaram às torturas esses homens que serviam a Deus de maneira santa e irrepreensível. Eles não sabiam que o Altíssimo é o defensor e o escudo daqueles que cultuam, de consciência pura, o seu nome excelso. A ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém. 8Os que suportaram com confiança, herdaram glória e honra; foram exaltados, e Deus os inscreveu no seu memorial pelos séculos dos séculos. Amém.
Convite à unidade
46. 1Irmãos, precisamos apegar-nos a esses modelos. 2Com efeito, está escrito: “Apegai-vos aos santos, porque aqueles que estão unidos a eles se tornaram santos[1].” 3E ainda se diz em outro lugar: “Será inocente com o homem inocente, serás eleito com o homem eleito, mas com o perverso te perverterás.[2]” 4Apeguemo-nos, portanto, aos inocentes e aos justos, porque eles são os eleitos de Deus. 5Para que haver brigas, ódios, disputas, divisões e guerras entre vós? 6Não temos nós um só Deus, um só Cristo, um só Espírito de graça, que foi derramado sobre nós, e uma só vocação em Cristo? 7Por que esquartejamos e rasgamos os membros de Cristo? Por que nos revoltamos contra o nosso próprio corpo, chegando a tal ponto de loucura? Esquecemo-nos de que somos membros uns dos outros? Lembrai-vos das palavras de Jesus, o Senhor nosso. 8Com efeito, ele disse: “Ai desse homem! Melhor seria para ele não ter nascido, do que escandalizar um só dos meus eleitos! Melhor seria para ele que lhe fosse amarrada uma pedra de moinho e o atirassem ao fundo do mar, do que perverter um só dos meus eleitos[3]!” Vossa divisão perverteu a muitos, desencorajou a muitos, fez com que muitos duvidassem, e nos entristeceu a todos. E vossas dissensões continuam!
A discórdia
47. 1Retomai a carta do bem-aventurado apóstolo Paulo. 2O que vos escreveu ele por primeiro, no início da evangelização? 3Na verdade, divinamente inspirado, ele enviou a carta para vós a respeito dele mesmo, de Céfas e de Apolo, porque já formavam divisões entre vós. 4Contudo, tal divisão representava então pecado menor para vós, já que vos inclináveis para apóstolos autorizados e para um homem aprovado junto de vós. 5Agora, porém, considerai quais são as pessoas que vos pervertem e que fazem baixar o prestígio e a reputação de vosso amor fraterno. 6Carríssimos, é vergonhoso, muito vergonhoso e indigno de conduta cristã ouvir-se dizer que a firme e antiga Igreja de Corinto, por causa de uma ou duas pessoas, está em revolta contra seus presbíteros. 7Esse rumor não chegou apenas até nós, mas também até os que são diferentes de nós. Dessa forma, com vossa insensatez, fazeis blasfemar o nome do Senhor e acarretais grave perigo para vós mesmos.
48. 1Arranquemos logo esse mal. Lancemo-nos aos pés do Senhor, choremos e supliquemos, a fim de que ele nos atenda, nos reconcilie e nos restabeleça na prática nobre e santa do amor fraterno.
A porta da justiça
2Esta é a porta da justiça aberta para a vida, como está escrito: “Abri-me as portas da justiça: entrai por elas para proclamar o Senhor. 3Eis a porta do Senhor; os justos entrarão por ela[4].” 4Muitas são as portas abertas, mas a da justiça é a de Cristo Felizes são todos os que entram por ela e dirigem seu caminho na santidade e na justiça, cumprindo todas as coisas sem perturbação. 5Cada qual seja fiel, capaz de expor o conhecimento, sábio em julgar os motivos e puro nas obras. 6Deverá ser tanto mais humilde, quanto mais for considerado maior, e deverá procurar o bem comum para todos, e não o seu próprio bem.
Supremacia do amor
49. 1Quem tem amor em Cristo, cumpra os mandamentos de Cristo. 2Quem poderá explicar o vínculo do amor de Deus? 3Quem será capaz de exprimir a grandiosidade de sua beleza? 4A altura para onde o amor conduz é inefável. 5O amor nos une a Deus, “o amor cobre a multidão dos pecados”. O amor tudo sofre e tudo suporta. No amor não há nada de banal, nem de soberbo. O amor não divide, o amor não provoca revolta, o amor realiza tudo na concórdia. No amor, tornam-se perfeitos os eleitos de Deus; sem o amor nada é agradável a Deus. 6É no amor que o Senhor nos atraiu a si. É por causa de seu amor para conosco, que Jesus Cristo nosso Senhor, conforme a vontade de Deus, deu o seu sangue por nós, sua carne pela nossa carne, e sua vida por nossa vida.
50. 1Caríssimos, vede como o amor é coisa elevada e maravilhosa e que sua perfeição está além de qualquer comentário. 2Quem é capaz de se encontrar nele, senão aqueles que Deus tornou dignos? Rezemos, portanto, e supliquemos a sua misericórdia, a fim de sermos encontrados no amor, sem parcialidade, irrepreensíveis. 3Muitas gerações passaram, desde Adão até hoje; mas, aqueles que pela graça de Deus, se tornaram perfeitos no amor permanecem no lugar dos piedosos. Esses hão de tornar-se manifestos, quando aparecer o Reino de Cristo. 4Com efeito, está escrito: “Entrai um pouco em vossos quartos, até que passem a minha ira e o meu furor. Então, eu me lembrarei do dia ótimo, e vos ressuscitarei dos vossos sepulcros[5].” 5Somos felizes, caríssimos, se praticamos os mandamentos de Deus na concórdia e no amor, a fim de que, pelo amor, nossos pecados sejam perdoados. 6Pois está escrito:”Felizes aqueles cujas iniqüidades foram perdoadas e cujos pecados foram cobertos. Feliz o homem, do qual o Senhor não considera o pecado e em cuja boca não existe engano[6].” 7Essa bem-aventurança é para os que Deus escolheu por meio de Jesus Cristo nosso Senhor. A ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
A Confissão dos pecados
51. 1Portanto, peçamos que nos sejam perdoadas as faltas e ações inspiradas pelo adversário. Os que foram chefes da revolta e da divisão devem considerar o que nos é comum na esperança. 2Com efeito, os que procedem com temor e amor preferem sofrer eles próprios em lugar seu próximo; preferem condenar a si próprios, antes que comprometer a concórdia transmitida na justiça. 3É melhor para o homem confessar suas faltas do que endurecer o coração, assim como se endureceu o coração dos que se revoltaram contra Moisés, o servidor de Deus. A condenação deles foi evidente, “pois desceram vivos para o Hades”, e “a morte os apascentará[7].” 5O faraó, seu exército e todos os chefes do Egito, com seu carros e aqueles que os montavam, afundaram no mar Vermelho e pereceram. Seus corações insensatos se endureceram, depois dos sinais e prodígios que Moisés, o servidor de Deus, tinha realizado no Egito.
52. 1Irmãos, o Senhor do universo não tem necessidade de nada. Ele não pede nada a ninguém, a não ser que se confesse a ele. 2Com efeito, assim diz o eleito Davi: “Confessarei ao Senhor, e isso lhe agradará mais do que um bezerro, ao qual crescem chifres e cascos. Que os pobres vejam isso e se alegrem.” E continua: “Oferece a Deus um sacrifício de louvor e cumpre os teus votos ao Altíssimo. Depois, invoca-me no dia da tua atribulação; eu te libertarei e tu me glorificarás.” 4Sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito[8].”
Exemplo de Moisés
53. 1Caríssimos, conheceis, e conheceis bem, as Sagradas Escrituras, e vos inclinastes sobre as palavras de Deus. Nós vos escrevemos essas coisas para recordar. 2Quando Moisés subiu a montanha e passou quarenta dias e quarenta noites no jejum e na humildade, Deus lhe disse: “Desce depressa, pois teu povo, aquele que fizeste sair do Egito, violou a lei. Eles depressa se afastaram do caminho que tu lhes tinha ordenado, e fizeram para si ídolos de metal derretido.” E o Senhor lhe disse: “Eu te falei uma vez e até duas, dizendo: Vi este povo e eis é povo de cabeça dura. Deixa-me exterminá-los. Apagarei o nome deles debaixo do céu, e farei de ti uma nação, grande e admirável muito mais numerosa que esta.” 4E Moisés respondeu: “De modo nenhum, Senhor. Perdoa o pecado desse povo ou cancela-me, também a mim, do livro dos vivos[9].” 5Oh! Grande amor! Perfeição insuperável! Um servo fala com liberdade ao Senhor; ele implora o perdão para a multidão ou pede para ser eliminado juntamente com ela!
Sacrificar-se para o bem comum
54. 1Quem de vós é generoso, compassivo e cheio de amor? 2Diga ele: “Se por minha causa existe revolta, briga e divisões, eu vou-me embora. Irei para onde quiserdes, e farei o que a multidão ordenar, para que o rebanho de Cristo viva em paz com os presbíteros constituídos.” 3Assim fazendo, ele adquirirá uma grande glória em Cristo, e todo lugar o receberá, pois “ao Senhor pertence a terra e tudo o que ela contém.” 4Assim agiram e assim agirão os que se comportam como cidadãos de Deus, e sem qualquer remorso.
55. 1Para citar também exemplos dos pagãos: muitos reis e chefes em tempos de peste, admoestações por oráculo, se ofereceram à morte para salvar, com seu próprio sangue, seus concidadãos. Muitos abandonaram suas próprias cidades, no intuito de pôr fim a uma revolta. 2Sabemos que entre nós muitos se entregaram às cadeias, a fim de libertar outros; não poucos se entregaram como escravos e, com o preço da venda, deram alimento a outros. 3Muitas mulheres, fortificadas pela graça de Deus, realizaram numerosas ações viris. 4A bem-aventurada Judite, no cerco de sua cidade, pediu aos anciãos permissão para sair e se dirigir ao acampamento dos estrangeiros. 5Ela, portanto, enfrentou perigo. Saiu da cidade por amor à pátria e ao povo que estava cercado. E o Senhor entregou Helofermes nas mãos de uma mulher. 6Não foi a perigo menor que se expôs Ester, perfeita na fé, para salvar as doze tribos de Israel, que estavam a ponto de perecer. No jejum e na humilhação, ela implorou ao Senhor que tudo vê, o Deus dos séculos. E ele, vendo a humildade dessa alma, libertou o povo, em favor do qual ela havia enfrentado o perigo.
Reconhecer os próprios erros
56. 1Portanto, supliquemos também nós pelos que se encontram em alguma falha, a fim de que lhe sejam concedidas moderação e humildade, e para que cedam, não a nós, e sim à vontade de Deus. Então, quando nos lembrarmos deles com espírito de misericórdia diante de Deus e dos santos, nossa oração produzirá frutos e será perfeita. 2Caríssimos, aceitemos a correção, contra a qual ninguém deverá indignar-se. A advertência que fazemos mutuamente é boa e extremamente útil, pois ela nos une à vontade de Deus. 3Com efeito, assim se exprime a palavra santa: “O Senhor me corrigiu e tornou a corrigir, para não me entregar à morte[10].” 4“O Senhor corrige os que ama, e castiga todo filho que lhe é aceito[11]5Disse também: “Que o justo me corrija com misericórdia e me acuse, mas que o óleo dos pecadores não unja minha cabeça[12].” E diz mais: “Feliz o homem a quem o Senhor não acusa; ele não recusa a advertência do Todo-poderoso, que faz sofrer, mas depois o restabelece; 7ele fere, mas as sua mãos curam. 8Por seis vezes, ele te arrancará das calamidades e, pela sétima vez, o mal não te tocará. 9Na fome ele te salvará da morte, e na guerra ele te livrará da mão de ferro. 10Ele te protegerá do açoite da língua, e não temerás os males que te sobrevêm. 11Tu rirás dos injustos e dos maus, e não temerás as feras, porque elas estarão em paz contigo. 13Depois, reconhecerás que a tua casa está em paz e que a tua tenda não sofreu danos. 14Conhecerás numerosa posteridade, e teus filhos serão como a erva dos campos. 15Descerás à sepultura como trigo maduro, colhido no tempo certo, ou como feixe da eira, recolhido na hora exata[13].” 16Vede, caríssimos, como o Senhor protege aquele que corrige. Como bom pai, ele nos corrige, tendo misericórdia de nós com sua santa correção.
57. 1Vós que lançastes os fundamentos da revolta, submetei-vos aos presbíteros e deixai-vos corrigir com arrependimento, dobrando os joelhos de vosso coração. 2Aprendei a submeter-vos, depondo a soberba e a orgulhosa arrogância da vossa língua. É melhor para vós ser encontrados pequenos e dentro do rebanho de Cristo, do que ter aparências de grandeza e ser rejeitados de sua esperança.
Escutar a Sabedoria
3Assim fala a virtuosíssima Sabedoria: “Eis que emitirei para vós uma palavra do meu espírito e vos ensinarei a minha palavra. 4Eu vos chamei e não obedecestes; prolonguei meus discursos, e não prestastes atenção. Ao contrário, tornastes inúteis os meus conselhos e rejeitastes minhas admoestações. Por isso, eu também rirei da vossa ruína, e me alegrarei quando alastrar sobre vós o extermínio, quando caírem sobre vós a tempestade, quando vier a catástrofe semelhante ao furacão, e cair sobre vós a aflição e a angústia. 5Então me chamareis, mas eu não vos escutarei. Os maus me procurarão, porém não me encontrarão, porque eles odiaram a Sabedoria e não escolheram o temor do Senhor; não quiseram dar atenção aos meus conselhos, e desprezaram as minhas admoestações. 6Por isso, comerão os frutos de sua conduta, e se saciarão com sua impiedade. 7Serão mortos por terem cometido injustiças contra os pequenos, e o julgamento destruirá os ímpios. Quem me ouve, habitará em sua tenda confiante na esperança, e viverá tranqüilamente, sem temor de nenhum mal.”
58. 1Obedeçamos, portanto, ao seu nome santíssimo e glorioso, fugindo das ameaças proferidas pela Sabedoria contra os que resistem, a fim de que “habitemos confiantes” sob o nome santíssimo de sua majestade. 2Recebei nosso conselhos, e não vos arrependereis. Pela vida de Deus, pela ida do Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo, que são a fé e a esperança dos eleitos: aquele que tiver praticado com humildade os preceitos e mandamentos dados por Deus, na simplicidade e perseverando na mansidão, esse será colocado e contado no número dos que foram salvos por Jesus Cristo, a quem pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
[1] Cit. De origem desconhecida
[8] Sl 68,31-33; 49,14-15; 51,19
59. 1Se alguns desobedecem ao que nós lhe dissemos da parte de Deus, saibam eles que estão incorrendo em falta e não pouco perigos.
V. GRANDE ORAÇÃO
2Quanto a nós, seremos inocentes desse pecado e, com orações e súplicas assíduas, pediremos que o Criador do universo conserve intacto o número dos seus eleitos no mundo inteiro, por meio do seu amadíssimo Filho Jesus Cristo nosso Senhor, por meio do qual nos chamou das trevas à luz, da ignorância ao conhecimento do seu nome glorioso, 3a fim de esperar no seu nome, que está na origem de toda a criatura:
Ladainhas e súplicas
Tu abriste os olhos do nosso coração,
para que conhecêssemos que tu és o Único,
o Altíssimo no altíssimos dos céus,
o Santo que repousa entre os santos.
Tu que humilhas a violência dos soberbos,
que aniquilas os projetos dos povos,
que exaltas os humildes
e rebaixas os soberbos.
Tu que fazes enriquecer e empobrecer,
que matas e dás a vida,
o único benfeitor dos espíritos
e Deus de todo o ser vivo.
Tu que perscrutas os abismos,
que observas as obras humanas,
que socorres aqueles que estão em perigo,
que salvas os desesperados,
és o Criador e o Vigilante de todo espírito.
e entre todos escolheste aqueles que te amam,
por meio de Jesus Cristo,
teu amadíssimo Filho,
mediante o qual nos educaste, santificaste e honraste,
4Nós te suplicamos, Senhor:
Sê o nosso auxílio e protetor.
Salva os nossos que estão na tribulação,
ergue os caídos,
manifesta-te aos necessitados,
cura os enfermos,
reconduze os que se afastaram do teu povo,
sacia os famintos,
liberta os nossos prisioneiros,
reergue os fracos,
consola os covardes.
Que todas as nações reconheçam
que tu és o único Deus,
que Jesus Cristo é teu Filho,
e nós somos o teu povo e ovelhas do teu rebanho.”
60. 1Com as tuas obras
tornaste visível a eterna ordem do mundo.
Tu, Senhor, criaste a terra,
és fiel em todas as gerações,
justo nos teus julgamentos,
admirável na força e na magnificência,
sábio no criar,
inteligente no sustentar as coisas criadas,
bom nas coisas visíveis,
benévolo para com os que confiam, em ti
misericordioso e compassivo.
Perdoa nossas iniqüidades e injustiças,
nossas faltas e negligências.
2Não leves em conta nenhum pecado de teus servos e tuas servas,
mas purifica-nos com a purificação da tua verdade,
e dirige nossos passos,
para caminharmos na santidade de coração
e fazer o que é bom e agradável
a ti e àqueles que nos governaram.
3Sim, Senhor,
revela a tua face sobre nós,
para o bem da paz,
para proteger-nos com tua mão poderosa.
Livra-nos de todo pecado,
com teu braço altíssimo,
e salva-nos dos que injustamente nos odeiam.
4Concede concórdia e paz
a nós e a todos os habitantes da terra,
assim como as deste aos nosso pais,
quanto te invocaram santamente na fé e na verdade.
Torna-nos submissos ao teu nome onipotente e virtuosíssimo,
e aos nossos chefes
e aos que nos governam sobre a terra.
61. 1Tu, Senhor, lhes deste o poder da realeza,
pela tua força, magnífica e indizível
para que nós, conhecendo a glória e a honra que lhes foi dada,
obedecêssemos a eles,
sem nos opor à tua vontade.
Dá-lhes, Senhor, a saúde,
a paz, a concórdia e a constância,
para que exerçam com segurança a soberania que lhes deste.
2Tu, Senhor celeste, rei dos séculos,
concede aos filhos dos homens
glória, honra e poder sobre as coisas da terra.
Dirige, Senhor, as decisões deles,
conforme o que é bom e agradável a ti,
para que, exercendo com paz, mansidão e piedade,
o poder que lhes foi dado por ti,
possam alcançar de ti a misericórdia.
3A ti, o único capaz de realizar por nós esses bens
e outros ainda maiores,
agradecemos por meio de Jesus Cristo,
o sumo sacerdote e protetor de nossas almas,
pelo qual agora sejam dadas a ti a glória
e a magnificência,
de geração em geração
e pelos séculos dos séculos. Amém.
VI. CONCLUSÃO
Últimos conselhos
62. 1Irmãos, nós vos escrevemos suficientemente sobre as coisas que convêm à nossa religião e que são úteis à vida virtuosa para os que desejam dirigir sua vida conforme a piedade e a justiça. 2Tocamos todos os pontos que se referem à fé, penitência, verdadeiro amor, continência, sabedoria e perseverança. Nós vós lembramos que é preciso agradar ao Deus todo-poderoso, mediante vida santa, na justiça, verdade e paciência, praticando a concórdia e esquecendo os rancores, no amor e na paz, perseverando na benevolência, imitando os nossos pais, dos quais já falamos acima: eles são agradáveis por causa de sua humildade para com Deus, o Pai Criador, e para com todos os homens. 3Nós vos lembramos essas coisas com prazer, porque estávamos certos de escrever a fiéis excelentes, que aprofundaram as palavras do ensinamento de Deus.
63. 1Convém que nós, com tantos e tantos exemplos, curvemos a fronte e ocupemos o lugar que nos cabe pela obediência. Desistamos da vã revolta, para alcançarmos irrepreensivelmente o escopo que nos é proposto na verdade. 2Vós nos dareis alegria e contentamento, se obedecerdes ao que escrevemos por meio do Espírito Santo, se acabardes com a cólera injusta da vossa inveja, segundo o pedido, que vos dirigimos nesta carta, tendo em vista a paz e a concórdia.
Saudações finais
3Nós vos enviamos homens fiéis e sábios, que viveram de maneira irrepreensível em nosso meio, desde a juventude até a velhice. Eles serão testemunhas entre nós e vós. 4Fizemos isso para que saibais que nossa preocupação foi e é a de que reencontreis logo a paz.
64. 1Quanto ao resto, que o Deus que tudo vê e é Senhor dos espíritos e de todos os seres vivos – que elegeu o Senhor Jesus Cristo e, por meio dele, nos elegeu para sermos o seu povo particular – conceda a toda pessoa que invoca o seu nome magnífico e santo, a fé, o temor, a paz, a perseverança, a paciência, a continência, a pureza e a moderação. Dessa forma, a pessoa será agradável ao seu Nome, por meio do nosso sumo sacerdote e protetor Jesus Cristo, pelo qual sejam dadas a Deus a glória, a grandeza, o poder e a honra, agora e pelos séculos dos séculos. Amém.
65. 1Devolvei-nos logo, na paz e na alegria, os nossos enviados Cláudio Efebo e Valério Biton, junto com Fortunato, a fim de que eles nos anunciem quanto antes a paz e a concórdia queridas e almejadas, e assim que também nós nos alegremos o mais depressa possível com a vossa serenidade.
2Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco e com todos aqueles que, em todo lugar, Deus chamou por meio de Jesus Cristo. Por ele, sejam dados a Deus a glória, a honra, o poder, a majestade e o reino eterno desde os séculos e pelos séculos dos séculos. Amém.
Fonte: Padres Apostólicos, Volume I, Coleção Patrística. Ed. Paulus

A BÍBLIA E JESUS

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