sábado, 13 de outubro de 2018

OS MINISTROS DO CULTO LEVÍTICO

Os Ministros do Culto Levítico
Pr. Claudionor de Andrade
Faremos algumas considerações acerca do chamado extraordinário dos levitas ao ministério sacerdotal de Jeová. Logo de início, buscaremos responder à pergunta: “Por que a escolha recaiu sobre Levi, se esta tribo não era a mais excelente de Israel?”. Em seguida, contemplaremos outra questão igualmente importante: “Não teria sido mais consensual se Moisés houvesse selecionado os ministros do altar dentre os melhores homens de cada tribo?”.

Antes, porém, de nos ocuparmos dessas questões, trataremos de uma temática comum às comunidades divinas de ambos os Testamentos: o serviço a Deus. Afinal, todos fomos chamados a servir ao Criador, pois Ele nos fez e dEle somos.

Portanto, ainda que não sejamos chamados a trabalhar num ministério específico, não poderemos ficar inativos; na Vinha do Senhor, há um trabalho para cada um de nós. Às vezes, o nosso afazer nem lembra um ministério, devido à sua pequenez e aparente insignificância. Mas, se é feito para Deus, jamais deixará de ter a glória e o galardão de ministério.
I. Diaconologia, a Teologia do Serviço Divino
Em qualquer diálogo teológico, precisamos levar em conta este pressuposto básico: “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1, ARA). A partir daí, conscientizar-nos-emos de que, neste mundo, devemos atuar como servos humildes e fiéis a Deus, e não como soberanos e ditadores; tudo pertence ao Senhor, inclusive você e eu, querido leitor. Eis a essência do que chamamos de diaconologia.
1. Etimologia e definição.
A palavra “diaconologia” provém de dois vocábulos gregos: diáconos: servo ou ministro; e logos: tratado ou discurso racional. Portanto, a diaconologia é a seção da teologia bíblica que se aplica ao estudo do serviço consagrado ao Reino de Deus.
Tal serviço não compreende apenas o esforço dos membros do ministério santo; reclama também o concurso de todos os que foram chamados à vida eterna. 
2. A diaconologia no Antigo Testamento.
No período do Antigo Testamento, a diaconologia divina repousava sobre o tripé: rei, sacerdote e profeta. Todavia, em momentos de emergência nacional, todo o povo erguia-se como um só homem (1 Sm 11.7). Nessas ocasiões, não se fazia distinção entre o clero e o laicato — todos, sem exceção, identificavam-se como povo de Deus. Mas, com a burocratização do serviço divino, a nação hebreia fragmentou-se de tal forma, que a união do povo com a classe dirigente tornou-se impossível.
A maior expressão da diaconologia vétero-testamentária deu-se na construção do Tabernáculo. Apesar das agruras do deserto, o povo atendeu prontamente ao apelo de Moisés, trazendo-lhe não apenas matérias-primas como ouro, prata, madeira e essências aromática, como também mão de obra especializada. Nesse serviço, os hebreus mostraram-se de tal forma liberais e generosos, que Moisés foi obrigado a proibi-los de trazer-lhe mais oferendas (Êx 36.6).
Nunca mais se repetiu, em Israel, tal exemplo de diaconia. Foi um exemplo único no Antigo Testamento. 
3. A diaconologia no Novo Testamento.
Nos Atos dos Apóstolos, as ações evangelísticas e missionárias não se limitavam ao colégio apostólico; ilimitavam-se nas intervenções de diáconos como Estêvão e Filipe e dos crentes anônimos que, aonde iam, espalhavam as Boas-Novas de Cristo.
O mais perfeito exemplo de diaconia do Novo Testamento é assim descrito por Lucas:
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. (At 2.42-47, ARA)
Tendo por base o relato lucano, concluímos que a diaconia da Igreja Primitiva estava longe de ser um ativismo social. Em primeiro lugar, era essencialmente teológica, uma vez que os crentes só vieram a doar seus bens depois de se haverem fundamentado na doutrina dos apóstolos. Em segundo lugar, era litúrgica e orante: acompanhavam-na a celebração da Santa Ceia e as preces cotidianas. E, finalmente, era marcada por uma profunda koinonia: todos, possuindo tudo em comum, depositavam o resultado de suas ofertas e despojamentos aos pés dos apóstolos. Acrescentemos, ainda, que a diaconia de Atos dos Apóstolos era fortemente soteriológica; redundava na salvação de almas.
Ao contrário da diaconologia de muitos ramos da cristandade atual, quer do catolicismo romano, quer do protestantismo nominal, que resultaram em ações pastorais contrárias às Sagradas Escrituras, a diaconia da Igreja Primitiva teve como fruto imediato a expansão do Reino de Deus.
Feitas essas considerações, voltemo-nos agora ao ministério levítico que, em si, representava formal e essencialmente a diaconologia do Antigo Testamento.   
II. O Chamado de Levi em Abraão
O autor da Epístola aos Hebreus, inspirado pelo Espírito Santo, teve um discernimento excepcional quanto ao chamado de Levi ao ministério sagrado. Conforme veremos, o terceiro filho de Jacó fora chamado a servir como sacerdote antes mesmo de nascer.
1. A presença de Levi na celebração de Melquisedeque.
Segundo vimos no capítulo anterior, o encontro de Abraão com Melquisedeque, rei de Salém, constituiu-se na maior celebração divina do Antigo Testamento (Gn 14.18-20). Nessa ocasião, de acordo com o autor sagrado, Levi, bisneto de Abraão, ali esteve presente nos lombos de seu avoengo:
Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos. E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste. (Hb 7.4,9,10, ARA)
Na presciência de Deus, Levi já havia sido escolhido mesmo antes de nascer. Sua diaconologia, como sacerdote transitório dos bens que serviriam de sombra aos eternos, consistiria em servir ao sacerdócio eterno de Melquisedeque, que, naquele momento, representava o Senhor Jesus Cristo.
2. A importância de Levi no Concerto Sagrado.
Se lermos o capítulo 14 de Gênesis, à luz de Hebreus 7, concluiremos que, no âmbito da diaconologia do Antigo Testamento, o patriarca Levi foi mais importante do que Isaque, Jacó, Judá e o próprio José. Tais varões, apesar de sua importância na formação e preservação do povo escolhido, jamais tiveram acesso ao sacerdócio litúrgico.
Mas, ao acompanharmos a biografia de Levi, ficamos sem entender por que o patriarca, que nem primogênito era de Jacó, alcançaria tanta preeminência no decorrer da História Sagrada.    
III. O Caráter Forte e Conservador de Levi
Só viremos a entender a pessoa de Levi, se nos detivermos em sua biografia que, a rigor, nem biografia pode ser considerada. No entanto, o que a narrativa sagrada revela acerca de sua juventude e velhice é suficiente para formarmos uma imagem de seu caráter. 
1. O nascimento de Levi.
Levi, ao contrário de José, não era filho de Raquel, a esposa querida e predileta de Jacó. Quando de seu nascimento, Lia, sua mãe, ainda ressentida por ter sido preterida em relação à irmã, desabriu toda a sua mágoa: “Agora, desta vez, se unirá mais a mim meu marido, porque lhe dei à luz três filhos” (Gn 29.34, ARA). Por isso, deu-lhe um nome que reunia esperança e redenção: Levi, que, em hebraico, significa ligado, unido ou vinculado.
Pelos usos e costumes da época, o menino já estava destinado, desde o ventre, a uma vida comum, medíocre e sem ascendência no clã. Afinal, além de não ser o primogênito, era o terceiro filho de uma mulher que, no coração do marido, estava longe do primeiro lugar.
2. O episódio de Diná.
O caráter forte, conservador e moralista de Levi aflorou quando do estupro de Diná. Após tramar, juntamente com Simeão, a ruína da família de Siquém, o jovem que abusara de sua irmã, justificou o seu ato com uma alegação que, ainda hoje, reflete os costumes de alguns clãs: “Abusaria ele de nossa irmã, como se fosse prostituta?” (Gn 34.31, ARA).
O autor sagrado não deixa claro se tais palavras foram proferidas por Levi. Mas, tendo em conta a história de seus descendentes, entendo que tal discurso é mais apropriado a Levi do que a Simeão. Em termos morais, aliás, Simeão era nada recomendável. Talvez, por isso mesmo, José o manteria preso no Egito, ao receber a primeira visita de seus irmãos (Gn 42.24).   
3. O episódio de José.
Da história de José, inferimos que Levi estivera tão envolvido na venda do jovem sonhador quanto os outros irmãos. O que ele fez para livrar o caçula? Embora fosse o terceiro filho em responsabilidade moral, agiu, naquele momento, como Caim: “Acaso sou eu o guardador de meu irmão?”.
Portanto, se fôssemos analisar a vida de Levi, até aqui, jamais poderíamos referendar-lhe o nome como o chefe da tribo sacerdotal de Israel. Mas Deus, que nos sonda as intenções mais profundas, age doutra forma; usa as coisas que não são, para confundir as que são.
4. A bênção de Levi.
Estando já próximo da morte, Jacó reúne seus filhos para abençoá-los e profetizar-lhes o futuro na História Sagrada. Das palavras do velho patriarca ao terceiro filho, logo concluímos que, para Levi, não haveria futuro ou promissão: 

Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel. (Gn 49.5-7, ARA)
Naquele momento, o moribundo Jacó jamais poderia vir a imaginar que o seu terceiro filho erguer-se-ia, séculos depois, como o sacerdote de toda a sua família. Levi, devido ao seu furor, foi disciplinado. Em Israel, espalhou-se; nenhuma herdade jamais. Todavia, a maldição seria revertida em bênçãos. A sua única herança, agora, era o Deus de Abraão.  
IV. Direitos e Deveres dos Levitas
Os descendentes de Levi, principalmente os da casa de Arão, deveriam observar estes direitos e deveres: viver do altar, santificar-se ao Senhor e ser uma referência moral, ética e espiritual.
1. Viver do altar.
Já que os sacerdotes dedicavam-se ao ministério do altar, do altar deveriam viver (Lv 7.35). Portanto, não tinham eles direito a qualquer herança territorial entre os seus irmãos, porque a sua herança e porção eram o Senhor (Nm 18.20). Moisés, então, divinamente instruído, destinou-lhes cidades estratégicas por todo o Israel (Nm 35.8). Algumas delas serviam também como refúgio ao homicida involuntário (Nm 35.6).
2. Santificar-se ao Senhor.
Em virtude de seu ofício, os sacerdotes deveriam erguer-se, em Israel, como referência de santidade e pureza. O sumo sacerdote, por exemplo, tinha de ostentar uma faixa de ouro, em sua mitra, na qual estava escrito: “Santidade ao Senhor” (Êx 28.36). Caso o sacerdote profanasse o seu ofício, seria punido com todo o rigor (Lv 10.1-3).
3. Tornar-se uma referência espiritual e moral.
Os sacerdotes, por serem responsáveis pela aplicação da Lei de Deus, tinham a obrigação de constituir-se num modelo espiritual, moral e ético a Israel (Ml 2.1-10). Os filhos de Eli, em consequência de seu proceder, tornaram-se uma péssima referência aos israelitas. E, por causa disso, Deus os matou (1 Sm 2.25). Andemos, pois, em santidade e pureza diante do Senhor. Ele continua a reivindicar santidade de todo o seu povo, principalmente de nós, obreiros. 
Conclusão
O sacerdócio levítico era glorioso; seus membros eram considerados príncipes de Deus (Zc 3.8). Todavia, o Senhor Jesus Cristo é superior ao sacerdócio levítico, pois é eterno (Sl 110.4). Quanto a nós, somos uma nação santa, profética e sacerdotal — recebemos a incumbência de proclamar o Evangelho e interceder pelos que perecem (1 Pe 2.9). Portanto, sirvamos ao Senhor com todo o nosso ser, para que, por intermédio de nossa vida, venha o Reino dos Céus à Terra.       
*Adquira o livro. ANDRADE, Claudionor de. Adoração, Santidade e Serviço: Os Princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
Fonte:  Portal da Escola Dominical

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