INTRODUÇÃO
Esse
trabalho tem por objetivo esclarecer aos leitores a respeito da discussão
existente sobre o dilúvio, se foi um evento universal ou parcial.
Será
tratado as opiniões dos autores pesquisados tanto na defesa da universalidade
do dilúvio como o de ter sido um evento somente parcial.
A
opinião mais aceita pelos estudiosos é que a abrangência do dilúvio foi
universal, pois passagens bíblicas como:
“Como se foram multiplicando os homens na terra...”, “A terra estava
corrompida à vista de Deus...”, “...e cobriram todos os altos montes que havia
debaixo do céu.”, colaboram para esse entendimento.
Observa-se
que dentre os defensores de um dilúvio parcial, entre várias opiniões, há o
pensamento de que o juízo de Deus foi sobre o homem, e não contra o planeta, e
que nem sempre a expressão “toda terra” significa universalidade.
DILÚVIO UNIVERSAL
Essa
é, sem sombra de dúvidas, a versão mais aceita e recebida no cristianismo. Em
nossa alfabetização bíblica nas escolas dominicais temos sido ensinados desse
modo a anos. Os cristãos em geral adotam essa posição e não sem evidências,
pois as escrituras parecem favorecer essa interpretação largamente, em função
de sua linguagem universalista nesse texto (cf. veja a quantidade de “tudo”,
“todo”, “todos” usados nesse relato). Observe alguns pontos favoráveis:
- A
humanidade já teria ocupado toda a terra:
Se
toda a humanidade já ocupasse toda a terra nesse momento histórico, então, o
dilúvio deve ser necessariamente universal. A favor dessa idéia, Gênesis afirma
que os homens já haviam enchido a terra: Em primeiro lugar, os homens estavam
se multiplicando por todas as regiões da terra: “E aconteceu que, como os
homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram
filhas” (Gn.6.1). Calvino, falando sobre esse verso, atestou: “Isso aconteceu
como efeito da bênção (Gn.1.28), mas a corrupção humana abusou e perverteu essa
bênção e a transformou em maldição”. Poucos são os comentaristas que rejeitam a
idéia da maldade humana como causa do dilúvio, e Calvino demonstra isso bem.
Entretanto, note que o texto nos diz que a multiplicação do homem era sobre a
face da terra, como uma forma universal de apresentar a expansão da humanidade.
Portanto, se os homens ocupassem todo o globo nessa ocasião, o dilúvio era
universalmente necessário.
Em
segundo lugar, a linguagem de Gênesis sugere que a maldade do homem já era
vista em toda a terra: “A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de
violência” (Gn.6.11). Ou seja, a expansão da humanidade povoou a terra de tal
modo que a terra era vista como corrompida e a violência humana havia enchido
toda a terra. Essa expansão da humanidade caída está em conformidade com o que
se espera dela: “Quando os perversos se multiplicam, multiplicam-se as
transgressões” (Pr.29.16).
-
Todas as montanhas foram cobertas:
O
texto de Gênesis apresenta uma informação interessante sobre as montanhas que
precisa ser analisada: “Prevaleceram as águas excessivamente sobre a terra e
cobriram todos os altos montes que havia debaixo do céu. Quinze côvados acima
deles prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos” (Gn.7.19, 20). A descrição
aqui é bem abrangente e na opinião dos defensores dessa visão, o texto parece
não oferecer margem para outra interpretação.
Matthew
Henry é um desses que parece defender esse ponto aqui, e sobre ele atesta: “as
águas subiram tão alto que não apenas a planície fora inundada, mas para
garantir que ninguém pudesse escapar, o topo das mais altas montanhas foram
submersas – quinze côvados, ou seja, sete metros e meio, de modo que esperar a
salvação nos morros e montanhas era vã”. Provavelmente a citação sobre a
possibilidade de salvação encontrada nas montanhas seja uma forma de Henry
rejeitar a visão da mitologia grega do Dilúvio de Deucalião, que afirmava que
todos os homens morreram, exceto os que subiram ao topo das montanhas.
Outra
forte evidência desse fato encontra-se no capítulo 8 de Gênesis: “No dia
dezessete do sétimo mês, a arca repousou sobre as montanhas de Ararate. E as
águas foram minguando até ao décimo mês, em cujo primeiro dia apareceram os
cimos dos montes” (Gn.8.4-5). Falando sobre esse texto Krell atesta: “a
profundidade da água favorece um dilúvio universal. O Monte Ararate, no qual a
arca veio descansar, é superior a 17 mil pés de altitude, e as águas estavam
mais de vinte pés mais alto do que todas as montanhas”.
-
Todos os homens foram mortos:
Um
fato que não há contra-argumentos é que todos os homens, exceto a família de
Noé, foram mortos no dilúvio. Observe que essa tinha sido a promessa de Deus ao
enviar o Dilúvio: “Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem
que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me
arrependo de os haver feito” (Gn.6.7). Sobre esse texto Barnes afirma: “Este
testemunho solene para a condenação universal (a queda) não tinha deixado
qualquer impressão salutar ou duradoura sobre os sobreviventes. Mas agora uma
destruição geral e violenta é atinge toda a humanidade, é um monumento perpétuo
da ira divina contra o pecado, para todas as futuras gerações da única família
salva”. Toda a humanidade é alcançada com o dilúvio, e como os defensores dessa
visão defendem que os homens ocupavam toda a superfície da terra, era
necessário que o dilúvio fosse universal.
Essa
promessa feita por Deus foi levada à cabo, observe: “Pereceu toda carne que se
movia sobre a terra, tanto de ave como de animais domésticos e animais
selváticos, e de todos os enxames de criaturas que povoam a terra, e todo
homem” (Gn.7.21; cf.23). A terra fora de tal forma devastada e a humanidade
inteira destruída que a ordenança divina dada a Adão precisou ser reafirmada
com Noé e sua família: “Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede
fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn.9.1).
-
Todos os animais foram mortos:
Um
detalhe observado acima, mas ainda não comentado é que todos os animais,
excetos os que vivem nas águas, morreram no dilúvio. Isso levanta um importante
fato: Ainda que os homens não tivesse povoado cada uma das áreas do globo, os
animais já o poderiam ter feito. Se todos os animais morreram no dilúvio, ele
foi universal. Note a linguagem universalista dos textos: Disse o SENHOR: Farei
desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis
e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito” (Gn.6.7). Pereceu toda carne que se movia sobre a
terra, tanto de ave como de animais domésticos e animais selváticos, e de todos
os enxames de criaturas que povoam a terra, e todo homem” (Gn.7.21).
Linguagem
ainda mais abrangente vemos nesse verso: “Porque estou para derramar águas em
dilúvio sobre a terra para consumir toda carne em que há fôlego de vida debaixo
dos céus; tudo o que há na terra perecerá” (Gn.6.17). Ao comentar esse verso,
Gill atesta que o texto fala sobre “todos os seres vivos, homens e mulheres, as
feras e o gado da terra, e todo o réptil sobre ela e as aves do céu, mas
principalmente o homem, e os outros por sua causa”.
- Toda
a Terra foi devastada:
A
promessa de Deus em punir a terra não incluía apenas os seres vivos, mas também
o planeta terra: “Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne,
porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer
juntamente com a terra” (Gn.6.13). Sobre esse texto Keil & Delitzsch
afirmam: “Porque toda a carne havia destruído a terra, ela deveria ser
destruída com a Terra por Deus”. Até mesmo Pedro parece defender a idéia de um
juízo para a terra como um todo quando diz: “Porque, deliberadamente, esquecem
que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através
da água pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo,
afogado em água” (2Pe.3.5,6). A linguagem universal, parece se repetir em
Isaías, observe: “Porque isto é para mim como as águas de Noé; pois jurei que
as águas de Noé não mais inundariam a terra, e assim jurei que não mais me iraria
contra ti, nem te repreenderia” (Is.54.9). Essa leitura, certamente é um
reflexo do próprio relato de Gênesis: “Estabeleço a minha aliança convosco: não
será mais destruída toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio
para destruir a terra” (Gn.9.11).
DILÚVIO PARCIAL
Os
críticos da visão de um dilúvio local geralmente se interpõem por afirmar que
tal opção é na verdade uma tentativa de se adaptar as escrituras ao
conhecimento científico dos nossos dias. Segundo eles, essa visão é uma
tentativa de “modernização” das escrituras cujo objetivo principal é remover
barreiras intelectuais para a mentalidade contemporânea aceitar a palavra de
Deus. Eles também afirmam que diante da linguagem universalista da passagem tal
conceito fica inviável e que introjetar informações ao texto é necessário para
se defender tal posição. Em suma, os críticos a essa visão defendem que não é
possível que tal interpretação seja possível.
Mas,
será isso mesmo verdade? Nossa análise assume aqui um caráter investigativo do
texto, em primeiro lugar, para verificarmos se as críticas são de fato
verdadeiras, e verificar a possibilidade de tais críticos estarem equivocados.
Vamos à análise:
- O
uso das palavras “kol erets”:
O
primeiro debate está relacionado com a expressão hebraica “kol erets”, que é
traduzida diversas vezes no relato de Gênesis como “toda terra”. O que
percebemos quando observamos a expressão em uso na pena de Moisés percebemos
que nem sempre a intenção do autor é que o termo seja realmente tão abrangente
como supõe os defensores do dilúvio universal. Por isso, abaixo transcrevemos
algumas observações, em demonstração de que a expressão “kol erets” também é
usada com outras ênfases, observe
- Em
referência específica: No mesmo livro podemos encontrar a expressão com sentido
muito mais restrito e específico para “toda a terra”: “O primeiro chama-se
Pisom; é o que rodeia toda terra de Havilá, onde há ouro (…)E o nome do segundo
rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cuxe” (Gn.2.11, 13). Nesses
versos fica evidente que a expressão “toda terra” não significa apenas a terra
no sentido universal, mas em sentido restrito (cf. Gn.1.29; 17.8; 41.41, 43,
55; 45.20; Ex.9.9; 10.14, 15; 34.2; Dt.34.1).
- Em referência a pessoas: Eventualmente o
termo pode ser usado para descrever pessoas e não lugares: “Longe de ti o
fazeres tal coisa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao
ímpio; longe de ti. Não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn.18.25).
Certamente aqui a referência é ao uso da justiça para com a humanidade e não
com o Planeta Terra por assim dizer. Fato similar acontece em Babel: “Por isso
se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o SENHOR a língua de toda a
terra, e dali os espalhou o SENHOR sobre a face de toda a terra” (Gn.11.9).
Nesse verso os dois sentidos são observados: (1) Trata-se da confusão das
línguas dos povos (2) enquanto Deus os espalhava pela superfície do Planeta
Terra. Observar que essa expressão pode ter essa conotação ainda na pena de
Moisés, nos faz repensar o modo como entendemos tais expressões no texto de do
Dilúvio. Um uso interessante desse tipo é ainda visto em Gênesis: “E toda a
terra vinha ao Egito, para comprar de José, porque a fome prevaleceu em todo o
mundo” (Gn.41.57). Certamente não podemos esperar outra interpretação aqui,
senão que o texto fala sobre pessoas. Esse uso é comum na literatura mosaica e
no Antigo Testamento (Gn.19.31; Ex. 19.5; cf. Js.23.14; 1Sm.144.25; 2Sm.15.23;
1Re.2.2; 1Cr.16.14; 16.23; Sl.33.8; 66.1; 66.4; 96.1, 96.9; 98.4; 100.1; 105.7;
Is.14.7).
- Em
referência a um local restrito: Eventualmente a expressão pode ser usada para
descrever porções de toda a terra, e não propriamente a terra toda: “Acaso, não
está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a
esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda”
(Gn.13.9). Nesse verso o uso é claramente restrito e não se pode pensar
diferente aqui. Em outros textos do Pentateuco esse sentido é óbvio: “Então,
disse: Eis que faço uma aliança; diante de todo o teu povo farei maravilhas que
nunca se fizeram em toda a terra, nem entre nação alguma, de maneira que todo
este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do SENHOR; porque coisa terrível
é o que faço contigo” (Ex.34.10; cf.Lv.25.9, 24; Jz.6.37; 1Sm.13.3; 2Sm.18.8;
24, 8; 1Re.10.24; 1Cr.14.17; 1Cr.22.5; 2Cr.9.28 – veja também: Ez.9.9).
- Conclusão:
Diante do uso da expressão precisamos exercer certo cuidado quando lemos o
texto do dilúvio, pois é possível que Moisés não esteja dando uma ênfase tão
abrangente quanto pensam os defensores do dilúvio universal. Mas, temos alguma
indicação na narrativa do dilúvio que poderia sugerir que o Dilúvio é Local e
não Universal?
- O
testemunho do próprio texto:
É bem
verdade que existem algumas observações importantes a serem feitas no texto do
dilúvio que podem confirmar que o Dilúvio narrado nas escrituras não fala de um
fato universal, mas local, ainda que esse local inclua a grande parte do globo.
- O uso de erets: No relato do dilúvio alguns
usos do substantivo referente a terra se referem ao planeta, observe: “A terra
estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência. Viu Deus a terra, e eis
que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho
na terra” (Gn.6.11,12). Note que a idéia de uma terra corrompida aqui
certamente fala sobre a humanidade e não sobre o planeta. No verso 12 fica
evidente a equiparação entre a idéia da terra corrompida e de todo ser vivente
como um modo de viver corrompido. Essa idéia é importante, pois apresenta que o
foco do motivo do dilúvio é restrito à humanidade e não a todo o planeta.
Assim, não é exigido que o dilúvio atinja toda a terra. Outro detalhe importante,
é que a aliança que Deus faz como Noé inclui toda a humanidade: “Disse Deus:
Este é o sinal da minha aliança que faço entre mim e vós e entre todos os seres
viventes que estão convosco, para perpétuas gerações, porei nas nuvens o meu
arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra” (9.12, 13). Sobre esses
versos, Rich Deem afirma: “Gênesis 6, versículos 11 e 12 nos dizem que a terra
estava corrompida, apesar de entendermos este versículo como uma referência ao
povo da terra. Da mesma forma, em Gênesis 9:13, o versículo nos diz que Deus
fez uma aliança entre Ele mesmo e a terra. No entanto, mais tarde, versos
esclarece que a Aliança é entre Deus e as criaturas da terra. O texto de
Gênesis estabelece claramente (juntamente com o Novo Testamento) que o
julgamento de Deus foi universal em referência aos seres humanos (com exceção
de Noé e sua família)”.
- O uso de kol: Em algumas ocasiões o uso de
“kol” (tr. Todo) no relato do dilúvio não significa “tudo” no sentido mais
absoluto. Em algumas ocasiões a referência é à abrangência, mas não à
totalidade, observe: “Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne,
porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer
juntamente com a terra” (Gn.6.13). Observe que embora o dilúvio tenha alcançado
toda a humanidade não alcançou a Noé e seus familiares. Por isso, podemos
entender que tal afirmação não é absoluta, mas genérica (cf. Gn.6.17, 19). O
mesmo aconteceu com o término do dilúvio, quando o texto atesta que o dilúvio
teria matado todos os seres viventes, mas isso certamente não incluía a Noé,
sua família e os animais da arca (cf. 7.21).
- O uso de har: O termo hebraico “har” é
frequentemente traduzido por montanha no relato do dilúvio, mas o termo
hebraico é um pouco mais abrangente do que isso. Em um texto, seu uso pode ser
significativo, observe: “Prevaleceram as águas excessivamente sobre a terra e
cobriram todos os altos montes que havia debaixo do céu. Quinze côvados acima
deles prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos” (Gn.7.19-20). O termo
foi corretamente traduzido pela ARA, usando montes ao invés de montanhas.
Embora a diferenciação léxica não seja definitiva, certamente inclui a
possibilidade de um dilúvio que não tenha submerso o Everest, por exemplo. Alguns
autores que se propuseram a medir o Monte Ararate, onde a Arca parou, afirmam
que sua altitude é aproximadamente 16.500 pés de altura, enquanto as montanhas
do Himalaia ultrapassam os 26.000 pés! Por essa razão, é prudente tomarmos os
relato de Gn.7.19 como uma expressão retórica. Para explicar esse fato Barnes
acresce: “Nenhum monte estava sobre a água dentro do horizonte do espectador
humano”.
- O fim do relato do dilúvio: Duas observações
podem ser feitas aqui:
1. Vento:
O autor de Gênesis descreve que as águas do dilúvio foram minimizadas por
vento, observe: “Lembrou-se Deus de Noé e de todos os animais selváticos e de
todos os animais domésticos que com ele estavam na arca; Deus fez soprar um
vento sobre a terra, e baixaram as águas” (Gn.8.1). Não devemos minimizar a
idéia de o vento fazer as águas baixarem, mas pensar que na idéia de um dilúvio
universal, as águas não seriam escoadas pelo vento, pois não teriam para onde
ir. Note que essa é a tônica que o autor de Gênesis dá ao relato, observe: “As
águas iam-se escoando continuamente de sobre a terra e minguaram ao cabo de
cento e cinquenta dias” (Gn.8.3, cf. v.5).
2. Deserto
Universal: Outro detalhe que merece destaque, na é que se tomarmos literalmente as
declarações sobre o fim do dilúvio, teremos que admitir que o globo sofreu,
ainda que temporariamente, da completa ausência de água, observe: “Ao cabo de
quarenta dias, abriu Noé a janela que fizera na arca e soltou um corvo, o qual,
tendo saído, ia e voltava, até que se secaram as águas de sobre a terra
(…)Sucedeu que, no primeiro dia do primeiro mês, do ano seiscentos e um, as
águas se secaram de sobre a terra. Então, Noé removeu a cobertura da arca e
olhou, e eis que o solo estava enxuto (…)E, aos vinte e sete dias do segundo
mês, a terra estava seca” (Gn.8.6-7, 13, 14). A mesma ênfase aqui é dada quando
o autor narra a abrangência do dilúvio: Portanto, se o dilúvio foi local, é de
se esperar que a parte inundada, ainda que ocupe grande parte do globo, secou,
e não toda a terra como se esperaria na leitura universal do dilúvio.
- O
Testemunho de outras passagens:
Outras
passagens nas escrituras parecem favorecer a idéia de um dilúvio local e não
universal, observe:
- Sl.104.5-9:
“Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não vacile em tempo nenhum.
Tomaste o abismo por vestuário e a cobriste; as águas ficaram acima das
montanhas; à tua repreensão, fugiram, à voz do teu trovão, bateram em retirada.
Elevaram-se os montes, desceram os vales, até ao lugar que lhes havias
preparado. Puseste às águas divisa que não ultrapassarão, para que não tornem a
cobrir a terra”. O texto parece apontar para o ato da criação divina, que
lançou os fundamentos da terra e a cobriu com água, então elevou os montes e
desceu os vales e determinou que as águas não cobrissem a terra novamente. Esse
paralelo com a criação parece sugerir que no período da criação toda a terra
fora coberta por água, mas após criar as montanhas, um limite foi determinado
para que nunca mais as águas cobrissem a terra. Portanto, temos que considerar
que o dilúvio não poderia ultrapassar os limites determinados por Deus.
- Pv.8.27-29:
“Quando ele preparava os céus, aí estava eu; quando traçava o horizonte sobre a
face do abismo, quando firmava as nuvens de cima; quando estabelecia as fontes
do abismo, quando fixava ao mar o seu limite, para que as águas não
traspassassem os seus limites; quando compunha os fundamentos da terra”. Nesse
verso vemos a presença da sabedoria por toda a criação divina, e nesse verso
vemos que Deus estabeleceu um limite para as águas dos mares para que não
ultrapassassem. Essa é mais uma sugestão de que o dilúvio não teria sido
universal.
- 2Pe.3.5-6:
“Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como
terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pela qual
veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água”. Nesse verso Pedro não
diz que todo o mundo havia sido destruído pelo dilúvio, mas que o mundo
conhecido naquele tempo fora destruído.
- Outros:
Em outros lugares do Novo Testamento, fica evidente que o propósito do dilúvio
era a atribuição da ira divina sobre os homens, e não sobre todo o planeta,
observe: “Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do
Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé
entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos” (Lc.17-26-27); “Pela fé,
Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e
sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual
condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé” (Hb.11.7). Essa
informação reforça a idéia de que o mundo em foco para destruição era uma
referência ao ser humano e não ao planeta. Portanto, o dilúvio tinha o objetivo
de destruir apenas os seres humanos e não submergir o Planeta Terra.
A
discussão a respeito da universalidade ou não do dilúvio, mesmo havendo
divergências de opiniões nos mostra que Deus é fiel e cumpre o que fala.
O
mundo antigo ter sido submerso pelas águas e Deus poupando a família de Noé
para que através dele fosse iniciado uma nova etapa na face da terra, pode se
levar em conta a ideia da universalidade, pois se a terra fosse habitada em
outros locais e o dilúvio não tivesse alcançado esses locais, talvez não seria
correto dizer que o reinicio de tudo aconteceu com Noé.
Esse
tema tem argumentos bíblicos para as duas posições, pois os defensores de um
dilúvio local não apresentam seus argumentos sem uma base bíblica de acordo com
a visão que esses têm, porém se
acreditar na universalidade parece ser o mais viável por ser essa opinião
aceita pela maioria e também por ser os argumentos mais convincentes.
Penso
que o dilúvio universal é mais viável por ser a opinião da maioria dos
cristãos, e pela fé, baseada na palavra de Deus, acredito que o dilúvio foi em
toda a face da terra, pois Noé e sua família foram as pessoas que Deus usou
para dar continuidade a sua obra na terra, certamente Deus teria revelado na
sua palavra que houve sobreviventes em outros locais, e se tivesse havido
outros sobreviventes, não seria Noé o único a agradar a Deus naquela geração e
nem seria através dele a continuidade da obra de Deus na terra.
https://marceloberti.wordpress.com/2010/06/07/o-diluvio-foi-universal-ou-local/
Pesquisa feita por Maria de Fátima Santos Pereira - Bacharel em Teologia
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