Jó
Chave: Provação
Comentário:
A apresentação claramente visível do
livro - prólogo, discurso e epílogo, além dos ciclos dentro dos próprios
discursos - demonstra-nos que se trata de uma interpretação teológica de certos
acontecimentos da vida de um homem chamado Jó. Do começo até ao fim o autor
procura com diligência responder a uma pergunta básica. Qual é o significado da
fé?
Chefe tribal de extraordinária piedade
e integridade, Jó é abençoado por Deus com prosperidade terrena que o converte
no homem "maior do que todos os do oriente" (1:3). De repente, Jó
sofre vários reveses de fortuna. Vítima de uma série de grandes calamidades,
vê-se privado primeiro de seus bens e de seus filhos (1:13-19). Seu corpo se
cobre de uma enfermidade repulsiva (2:7). Três amigos, que se apresentam com a
intenção evidente de consolar Jó, insistem em que seu sofrimento é castigo pelo
pecado , e por isso mesmo, seu único recurso é o arrependimento. Mas Jó repudia
com veemência esta solução, afirmando sua integridade, e admitindo ao mesmo
tempo sua incapacidade de entender sua própria condição. Outro amigo, Eliú,
sugere que Jó está passando por um período de disciplina de amor ordenada por
Deus, para impedi-lo de continuar pecando. Jó rejeita também esta
interpretação. Finalmente, Deus responde às contínuas solicitações de Jó, de
uma explicação direta de seus sofrimentos. Deus responde, não mediante uma
justificação de sua conduta, nem mediante uma solução imediata, mas em virtude
de sua apresentação de si mesmo com sabedoria e poder. Esta apresentação é
suficiente para Jó; observa ele que, por ser Deus quem é, deve haver uma
solução, e nela apoia sua fé.
Conquanto o tema do sofrimento e suas
causas seja predominante no livro, este preenche um fim mais amplo na mente do autor: o de demonstrar que a certeza da fé não
depende das circustâncias externas nem das explicações conjeturais, mas do
encontro da fé com um Deus onipotente e onisciente.
Autor:
O livro não nos dá indicações certas
do autor nem do tempo em que foi escrito. Embora muitos, atualmente, afirmem
que foi escrito no exílio ou em época pós-exílio (sexto a terceiro século a.
C), tradicionalmente tem-se fixado a data na época dos patriarcas (século XVI
a.c.), ou nos dias de Salomão (século X a.C.).
_
Robert B. Laurin
Doutor em Filosofia e Letras
Salmos
É o Livro de louvores de Israel.
Comentário:
Os Salmos, metade dos quais é
atribuída por suas inscrições a Davi, o suave cantor de Israel, em geral
procedem da idade áurea de Israel, por volta do ano 1000 a.C. Sem a menor
dúvida, alguns foram escritos mais tarde, na época do cativeiro (por exemplo, o
Salmo 137). Os salmos expressam verdades profundas num estilo poético, com a
intenção de penetrar os recônditos do coração. Devem ensinar-nos que o
conhecimento intelectual não é suficiente; o coração deve ser alcançado pela
graça redentora de Deus. A poesia hebraica não consiste no rítimo, mas
principalmente na repetição de pensamentos apresentados em cláusulas paralelas,
como, por exemplo: "Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu
segundo as nossas iniquidades" (103:10). Se prestarmos atenção a este
paralelismo, poderemos, às vezes, interpretar palavras obscuras mediante o
paralelo mais claro. Outro recurso que se emprega com freqüência no artifício
poético é a dramatização. Davi não escreve para si próprio. Escreve para
outros. O salmista escreve para todos nós, e podemos apropriarmos de que aqui
também Davi escreve às vezes na primeira pessoa do singular; não obstante isso,
proporciona-nos pormenores vividos das experiências do Messias.
Cerca da metade dos salmos pode ser
classificada como orações de fé proferidas em épocas de angústia. Salmos tão
preciosos como os de número 23, 91, 121 e muitos outros, sustentam-nos nos
momentos de necessidades mais urgentes. Seria bom que apredêssemos de cor estes
salmos e os repetissemos com freqüência, a fim de fortalecer-nos com a Palavra
quando a hora da provação nos apanha de surpresa. Mais ou menos 40 salmos são
dedicados ao tema do louvor. A nota de louvor a Deus deve constituir-se em uma
parte da respiração mesma do crente, e salmos tais como os de números 100 e 103
devem figurar com proeminência em nossas devoções.
É difícil fazer uma classificação
minuciosa dos salmos, visto como são obras profundamente poéticas, e um salmo
pode tratar de assuntos diferentes. Sugerimos, contudo, várias categorias: os
salmos do homem justo são representados pelos de números 1, 15, 101. 112 e 133.
Seis poderiam denominar-se salmos messiânicos: 2, 21, 45, 72, 110 e 132. Os
salmos 32 e 51 são chamados, de modo geral, penitenciais, juntamente com partes
dos salmos 38, 130 e 143. Os salmos imprecatórios pedem vingança sobre os
inimigos de Deus; são eles: 69, 101, 137 e parte dos salmos 35, 55 e 58. Há,
pelo menos, quatro salmos históricos: 78, 81, 105 e 106. Dois ressaltam a
revelação: 19 e 119.
Os salmos messiânicos que se referem a
Cristo, no Novo Testamento, são: 2, 8, 16, 22, 40, 41, 45, 68, 69, 89, 102,
109, 110 e 118. Alguns destes são tipicamente messiânicos, isto é, escritos a
respeito de nossas experiências em geral, mas aplicados a Cristo. Outros são
diretamente proféticos. Os salmos 2, 45 e 110 predizem o Rei messiânico. No
salmo 45:6, o Messias é Deus; no 110, é ele o Sacerdote, Rei e Senhor de Davi;
no salmo 2, é o Filho de Deus que deve ser adorado. Outros salmos fazem
referência a seus sofrimentos (22), seu sacrifício (40), sua ressurreição
(16:10, 11). No salmo 89, ele é quem completa a aliança davídica em cumprimento
das esperanças de Israel. .
Autor:
Segundo os títulos, Davi foi o autor
de 73 salmos; Asafe, de 12. Os filhos de Coré, 11; Salomão, 2; Moisés e Etã um
cada um. No caso de 50 salmos, não se menciona seu autor. A versão dos Setenta
ou Septuaginta acrescenta Ageu e Zacarias como autores de 5 salmos.
O valor das inscrições tem sido posto
em dúvida, mas é evidente que figuravam muito antes do ano 200 a.C., visto que
a Versão dos Setenta, traduzida em torno dessa época, interpretou erroneamente
várias das anotações musicais dos títulos. As composições poéticas que figuram
nos livros históricos da época do pré-exílio assinalam o uso semelhante de
inscrições (Habacuque 3:1; Isaias 38:9; II Samuel 1:17; 23:1). O salmo 18,
atribuido a Davi por sua inscrição, também se diz em II Samuel 22:1 que foi
escrito por ele. Esta reputação de Davi como músico é mencionada repetidamente
(II Samuel 23:1; I Samuel 16:18; Amós 6:5). Os livros das Crônicas explicam com
clareza que Davi organizou coros no templo e compôs salmos para eles (I
Crônicas 16:4, 5; 25:1-5). As expressões musicais enigmáticas das inscrições
acham-se freqüentemente relacionadas pelo livro das Crônicas com este trabalho
de Davi (I Crônicas 15:20, 21; 16:4; compare os títulos dos salmos 12, 38, 46;
e 105:1; 148:1 e outros). Finalmente, o Senhor Jesus Cristo fundamentou um
importante argumento sobre a validez do título do salmo 110 (Marcos 12:36). Não
parece existir prova positiva contra o ponto de vista tradicional de que a
maior parte dos salmos foi escrita em torno do ano 1000 a.C., como afirmam as
inscrições. As novas provas derivadas dos pergaminhos do mar Morto descartam a
idéia de que a escritura de alguns salmos se estendeu até ao segundo século
antes de Cristo conforme o sustentaram alguns exegetas no passado.
-
R. Laird Harris
Doutor em Filosofia e Letras
TABELA DE SALMOS E AUTORES:
Davi:
(3 A 9; 11 a 32; 34 a 41; 51 a 65; 68 a 70; 86; 101; 108 a 110; 122;
124; 131; 133; 138 a 145)
Salomão: (72 e 127)
Filhos de Coré: (poetas) (42; 44 a 49;
84 e 85; 87 e 88)
Asafe:(50; 73 a 83)
Etã: (89)
Moisés: (90)
Hallel: (113 a 118)
Provérbios
Chave: Sabedoria
Comentário:
Entre os Provérbios, a sabedoria
começa em Deus; sua centralidade, sua situação básica é dada por sentada em
todo o livro. Os sábios se colocam em um mesmo nível. Trata-se dos que confiam
em Deus, que o conhecem, que refletem esta confiança e este conhecimento
mediante sua conduta reta e amorosa para com seus semelhantes, de acordo com
princípios divinamente aprovados. O bom e o mau estão vinculados com a
recompensa e com o castigo, uma vez que Deus incorpora em si mesmo o amor e a
justiça , de modo que deve promover o bem e evitar o mal.
Os padrões positivos e negativos do
livro dos Provérbios proporcionam-nos uma prova valiosa de conduta pessoal. O
Senhor Jesus Cristo aconselha seus discípulos a serem "prudentes como as
serpentes..."(Mateus 10:16). A sabedoria dos Provérbios é o adorno do
Antigo Testamento, pelo assim dizer, no que respeita às muitas exortações
práticas das epístolas do Novo Testamento, verdade aplicável tanto ao grande
discurso de quatorze pontos como à ampla, expressiva e concisa série de
instruções e observações de que se compõe a maior parte deste livro,
referindo-se aos muitos aspectos de nossa conduta diária.
Autor:
Provérbios 1:1 e 2 citam Salomão como
seu principal autor, 10:1 - 22:16 são diretamente seus. Incorporou o primeiro
grupo de "palavras" em 22:17 - 24:22 ("minha ciência",
22:17); e a passagem de 24:23-24 foi, talvez, acrescentada por ele, ou pelos
homens de Ezequias, juntamente com a segunda série de Salomão, capítulos 25 a
29. Os discursos, capítulos 1 a 9, não têm data, porém existia um bom
precedente oriental antiqüissimo que justificaria o fato de Salomão os antepor
como uma introdução aos provérbios principais. Os poemas de Agur, de Lemuel, e
da esposa virtuosa não têm data conhecida, mas poderiam ter sido acrescentados
anteriormente, no tempo de Ezequias, embora talvez mais tarde. Assim, a data
mais antiga para o livro dos Provérbios seria o reinado de Ezequias,
imediatamente depois do ano 700 a.C., ou, quem sabe, algum tempo depois.
A literatura proverbial escrita já era
antiga no Oriente Próximo: e estudos recentes (nem todos publicados) de
contactos lingüisticos e fundos literários da região norte de Canaã, do Egito,
da Mesopotâmia e de países heteus, ou hititas, indicariam que o livro de
Provérbios foi escrito na primeira metade do primeiro milênio antes de Cristo.
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Kenneth A. Kitchen
Bacharel em Artes
Eclesiastes
Chave: Vaidade
SÍNTESE E AUTOR
Quem é Eclesiastes? A palavra
significa "homem de assembléia", podendo ser o homem que convoca uma
assembléia religiosa (Números 10:7), ou aquele que é seu porta-voz ou pregador.
Nosso porta-voz não é um sacerdote que fizesse uso da lei, nem um profeta que
fizesse uso da palavra, mas um sábio que fazia uso do conselho (Jeremias
18:18), grande parte de cuja obra se assemelha ao livro dos Provérbios.
De 1:1 se deduz geralmente que se
trata de Salomão, o primeiro dos sábios de Israel (12:9, 11; também I Reis
3:12; 4:29-34); pelo menos, pensava-se que parte do livro refletia as
experiências do Sábio.
Entretanto, poderíamos perguntar se
Salomão, o terceiro rei de Israel, empregou alguma vez em sua história o tempo
gramatical pretérito para dizer: "Fui rei sobre Israel em Jerusalem"
(1:12). Teríamos confessado, como ele o fez, que a sabedoria "ainda estava
longe de mim"(7:23)? Quando este pregador escreveu? Evidentemente, quando
a nação de Israel vivia angustiada sob o jugo do opressor (possivelmente a
Pérsia, entre os anos 444 e 331 a.C.) Onde? Perto da casa de Deus (5:1). Os
conhecimentos do mundo demonstrados no livro poderiam ter sido adquiridos ali
mesmo em Jerusalém.
A quem se dirige o livro? Embora escrito
em hebraico, os traços distintivos de Israel são poucos. Nunca se emprega o
nome de Deus associado com o concerto ou aliança; Israel é mencionado uma única
vez. O autor fala aos filhos dos homens, e por fim à humanidade toda. Apontado
para a estultícia natural do homem e sua ignorância, prepara o caminho para a
sabedoria e para a luz do evangelho.
Por que este livro consta do cânon? Os
rabinos punham em dúvida a consequência do escritor, porém o livro já figurava
em suas Bíblias. Não vemos aqui um otimismo cego: existem muitíssimos problemas
sérios da vida para justificar otimismo. Não vemos aqui, tampouco, um
pessimismo cínico, visto que o autor é crente no Deus da justiça (8:12, 13).
Temos aqui um penetrante realismo que faz frente à alegria e à fúria, aos
triunfos e às derrotas, um jogo de luz e sombras, e termina afirmando que tudo
é vaidade (1:2; 12:8); contudo, paradoxalmente, a vida toda do homem deve
reverenciar e obedecer a Deus, uma vez que é a ele que finalmente prestaremos
contas (12:13, 14).
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W. Gordon Brown
Bacharel em Teologia
Cantares de Salomão
Comentário:
O livro descreve o amor e casamento de
Salomão (chamado o amado) com uma jovem camponesa (denominada sulamita).
Compõe-se totalmente de discursos pronunciados principalmente pela sulamita e
por Salomão. Visto como se trata de poesia oriental antiquíssima, difere
basicamente da forma como um escritor devoto da atualidade poderia apresentar
as mesmas idéias básicas. Descreve a beleza do amor puro entre uma mulher e um
homem, amor que se aprofunda numa devoção recíproca e imperecível. A mensagem
fundamental é a pureza e o caráter sagrado do amor no casamento - mensagem
muito necessária em nossos dias de tantas promessas matrimoniais quebradas e de
divórcios fáceis.
Ao mesmo tempo, os Cantares de Salomão
lembram-nos que o que sustenta todo o amor humano puro é o maior e mais
profundo de todos os amores - o amor de Deus, que sacrificou a seu Filho para
redimir os pecadores, e do amor do Filho de Deus que sofreu e morreu por sua
esposa, a igreja. Cantares de Salomão não é alegoria nem tipo, mas uma parábola
do amor divino que constitui o pano de fundo e a fonte de todo o verdadeiro
amor humano.
Autor:
O título (1:1) diz que Salomão é o
autor. Isto está de acordo com o conteúdo do livro, especialmente a descrição
da natureza. Até agora ninguém apresentou um caso convicente contra a
paternidade literária de Salomão. Foi rei de Israel entre os anos 973 a 933
a.C., aproximadamente.
-
Johannes G. Vos
Mestre em Teologia
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