Isaías
Comentário:
Isaías é merecidamente conhecido como
o profeta evangélico, visto que nos proporciona a mais ampla e clara exposição
do evangelho de Jesus Cristo registrada no Antigo Testamento. Semelhante, em
determinados aspectos, à epístola aos Romanos no Novo Testamento, Isaías serve
de compêndio das grandes doutrinas da era pré-cristã, e se ocupa de quase todos
os pontos cardiais na escala da teologia. Acentua de modo especial a doutrina
de Deus, sua onipotência, sua onisciência e seu amor redentor. Em confronto com
os deuses imaginários dos adoradores pagãos de ídolos, Deus se revela como o
verdadeiro Deus, o Soberano Criador do Universo, que ordena todos os
acontecimentos da história de acordo com um plano-mestre que ele próprio estabeleceu.
Mediante a demonstração de sua autoridade e inspiração de sua Palavra, cumpre
maravilhosamente as predições pronunciadas muito antes pelos profetas. Ele é o
mantenedor da lei moral, que traz a juízo todas as nações ímpias dos pagãos,
inclusive as mais ricas e poderosas dentre elas, e destina-se ao montão de
cinzas da eternidade, ao passo que seu povo escolhido vive para lhe glorificar
o nome.
É, acima de tudo, o Santo de Israel
que Isaías apresenta como o Senhor que o inspirou a profetizar. Em sua qualidade
de Santo, exige acima das formalidades da adoração mediante sacrifícios, o
sacrifício vivo de uma vida piedosa. Para este fim, apresenta as mais vigorosas
persuasões dirigidas à consciência de seu povo, tanto na forma de advertência e
apelos proféticos, como nas ameaças de castigo destinadas a levá-los ao
arrependimento. Mas, na qualidade do Santo de Israel, apresenta-se como
inalteradamente obrigado para com seu povo da aliança, e o fiador fiel de suas
misericordias promessas de perdoar-lhes, quando se arrependerem, e libertá-los
do poder do inimigo. Está preparado para resgatá-los dos assaltos de seus
arrogantes opressores gentios, e trazê-los, da escravidão e do exílio, para a
Terra Prometida.
Entretanto, na análise final, até
mesmo os crentes israelitas, instruídos nos ensinos do Antigo Testamento e
usufruindo de imcomparáveis privilégios de acesso a Deus, demonstram ser
inerentemente pecaminosos e incapazes de salvar-se a sí mesmo do mal. Seu
livramento final só pode provir do Salvador, do Messias divino e humano. Este
Emanuel, nascido de uma virgem, que é o próprio poderoso Rei, estabelecera seu
trono como rei de toda a terra, e porá em vigor as exigências da santa lei de
Deus, ao estabelecer a paz universal, a bondade e a verdade sobre o mundo todo.
Contudo, este Messias soberano obterá o triunfo somente como Servo de Jeová,
rejeitado e desprezado por seu próprio povo, oferecendo seu corpo sagrado como
expiação pelos pecados deles. Mediante o sofrimento e a morte, libertará a alma
não somente dos verdadeiros crentes de Israel como nação, mas também de todos
os gentios de terras distantes que abrirem o coração para receberem a verdade.
Tanto os judeus como os gentios formarão um rebanho de fé e constituirão os
súditos felizes de seu reino milenial, que está destinado a estabelecer o
governo de Deus e assegurar a paz de Deus sobre toda a terra.
Autor:
Isaías, filho de Amós, provinha, ao
que parece, de uma rica e respeitável família de Jerusalém, visto que não
somente se registra o nome de seu pai, mas ainda desfrutava de estreita relação
com a família real e com os mais altos funcionários do governo. Embora, talvez,
tenha iniciado seu ministério profético no final do reinado de Uzias, menciona
o ano da morte deste rei, provavelmente 740 a.C, como a época em que recebeu a
unção e incumbência especial de Deus no templo (capítulo 6). Foi-lhe ordenado
que pregasse com intrepidez e de modo inflexível uma mensagem de advertência e
denúncia contra seu povo, pela impiedade de conduta e pela idolatria, chamando
a nação para um sincero arrependimento e reforma. O idólatra rei Acaz odiou-o e
criou-lhe obstáculos, mas foi favorecido e respeitado pelo rei Ezequias
(716-698 a.C.), o qual, contudo, não levou em conta as advertências do profeta
contra a aliança com o Egito, Isaías foi, provavelmente, martirizado pelo rei
Manassés, brutal e depravado filho de Ezequias, isso por volta do ano 680 a.C.
-
Gleason L. Archer Junior
Doutor em Filosofia e Letras
Jeremias
Chave: Advertência
Comentário:
O prolongado ministério de Jeremias,
que durou mais de quarenta anos, estendeu-se desde o ano de 625 a.C. até poucos
anos depois que Judá deixasse de ser um estado, no ano de 586 A.C. Mais de
cinquenta nos de apostasia religiosa sob o reinado de Manassés foram,
finalmente, seguidos de uma reforma religiosa no governo de Josias (621-607)
a.C.). Jeremias apoiou a reforma com entusiasmo até perceber que o coração do
povo não mudava. Dois anos após a morte de Josias, a batalha de Carquemis (605
a.C.) consolidou o domínio babilônico sobre a Ásia Ocidental. A partir daí,
Jeremias defendeu a submissão a Babilônia, porém não teve êxito. Por causa da
administração dos últimos quatro reis de Judá, dos vinte e um anos de apostasia
religiosa e fraqueza política, tornou-se inevitável a queda de Jerusalém no ano
de 586 a.C. e o conseqüente exílio.
As angustiosas circunstâncias sob as
quais Jeremias trabalhava e a extraordinária extensão com que a idolatria
tomara o lugar da religião revelada em Judá manifestam-se com clareza nas
predições de Jeremias. Igualmente, a angústia espiritual de Jeremias é causada
por esta apostasia. Contudo, não era ele um homem pessimista. Era,
essencialmente, guerreiro de Deus, porém um guerreiro que também exercia as
funções de atalaia e testemunha. O primeiro capítulo descreve o chamado de
Jeremias para o mninistério profético. Os capítulos 2 a 13 capacitam-nos a
reconstruir as condições em que ele profetizava, enquanto os capítulos 14 a 33
nos revelam sua consciência de Deus e sua comunhão com ele (leia também
1:1-19). O guerreiro surge, como atalaia de Deus (34:1 - 45:5) e testemunha de
Deus (46:1-52:34).
Nos oráculos de Jeremias, Deus, o
Governante moral do mundo, é o Deus das alianças de Israel. Por meio de Israel,
procurou atingir fins morais. Em realidade, o adultério, pelo assim dizer, do
reino setentrional com os baalins obrigou Deus a dar-lhe carta de divórcio, ou
seja, mandá-lo para o exílio. Judá, o reino meridional, não tirou proveito da
experiência de Israel. Na verdade, superou a Israel na prática de impurezas
sexuais, a despeito de rejeitar as acusações de infidelidade religiosa.
Portanto, Deus teve de castigá-la.
O arrependimento poderia ter suspenso
o processo de divórcio (exílio), apesar de seus adultérios, visto como a graça
divina é imensa. Todavia, tão arraigada estava a imoralidade em Judá que a
nação não era capaz de corrigir-se moralmente. Aos poucos foram desaparecendo
as virtudes sociais. Nem os sacrifícios nem os ritos poderam substituir o
arrependimento e a justiça. A espantosa pecaminosidade de Judá significava que
o pecado devia ser congênito, por conseguinte, não tinha capacidade moral. Esse
pecado nascia de uma natureza pacaminosa. O juízo e o exílio eram inevitáveis.
Porém o exílio não era a última palavra.
Voltaria um remanescente para viver
sob a administração messiânica, em um ambiente de segurança religiosa e social.
O governo justo do Messias sobre um povo reto contribui para explicar a
doutrina do novo concerto de Jeremias. As pessoas seriam justas porque teriam o
coração renovado. Obedeceriam às leis de Deus de coração espontaneamente. A
nova aliança, garantindo o perdão e uma dinâmica espiritual interior,
transcederia o legalismo da antiga aliança. Finalmente, pelo sacrifício e morte
de Cristo, e mediante a manifestação regeneradora interior do Espírito Santo, a
nova aliança se tornaria realidade.
Autor:
Não se observa princípio algum na
organização das profecias de Jeremias. Os oráculos sob os últimos cinco reis de
Judá não seguem uma linha cronológica. A ordem dos capítulos, no hebraico,
difere da ordem da Versão dos Setenta (Septuaginta), e nesta Versão se observam
consideráveis omissões, conquanto de escassa importância. Isto nos sugere uma
revisão redatorial distinta. Jeremias ditou as profecias e Baruque as escreveu
(36:1-8, 32). O Novo Testamento contém numerosas referências a Jeremias.
-
J. G. S. S. Thomsom
Doutor em Filosofia e Letras
Lamentações de Jeremias
Chave: Calamidade
Comentário:
O livro de Lamentações contém um tema
principal. Os sofrimentos que recaíram sobre Jerusalém quando o rei
Nabucodonosor capturou a cidade no ano de 586 a.C. Em uma série de elegias, o
autor expressa seu inconsolável pesar pela agonia e angústia da cidade.
O primeiro lamento descreve e explica
as aflições de Jerusalém em termos gerais. O segundo descreve o desastre em
maiores minúncias. Ressalta que a destruição da cidade é um juízo divino sobre
o pecado. Alguns fatores fundamentais deste juízo se esclarecem no terceiro
lamento. O quarto sublinha algumas lições que Jerusalém aprendeu por meio do
juízo. O quinto e último lamento (poderíamos dizer mais acertadamente
oração)descreve como Jerusalém, por causa de seus sofrimentos, lançou-se à
misericórdia divina, esperando que Deus novamente se mostre misericiordioso
para com Israel, agora purificada no cadinho da aflição. Considerando-se que as
Lamentações de Jeremias tratam o sofrimento como castigo sobre o pecado, o
crente afligido tem no referido livro a linguagem de sua confissão,
auto-humilhação e invocação.
Autor:
Desde época antiqüissima, tanto os
judeus como os cristãos têm atribuído a Jeremias o livro das Lamentações. A Versão
dos Setenta (Septuaginta) atribui a autoria do livro a esse profeta, desde o
segundo século antes de Cristo, e a Bulgata o faz desde o quarto século de
nossa era. Se dermos por definida a paternidade literária de Jeremias, o livro
das Lamentações converte-se em "suplemento do livro de Jeremias", que
com tanta freqüencia profetizou uma catástrofe como a que o livro das
Lamentações descreve. Jeremias não adota um tom de censura em seu lamento, como
quem diz: "Eu o avisei." Sente a dor das aflições de Jerusalém, e
roga a Deus que não a rejeite para sempre.
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J. G. S. S. Thomson
Doutor em Filosofia e Letras
Ezequiel
Chave: Visões
Comentário:
O Livro de Ezequiel relata a atividade
de um profeta durante o exílio na Babilônia. O profeta dirige suas mensagens a
seus compatriotas cativos e também ao povo hebreu que ainda reside na
Palestina. Ambos os grupos permaneceram obstinados e impenitentes, mesmo depois
da captura de Jerusalém levada a cabo pelo rei babilônio Nabucodonosor, e do
exílio de Joaquim, rei de Judá, juntamente com uma considerável parte da
população no ano de 597 a.C. Portanto, Deus atribuiu a Ezequiel a tarefa de
denunciar a casa rebelde de Israel e predizer a destruição de Jerusalém e a
deportação de um número ainda maior. Seis anos depois de Ezequiel haver
começado a pregar, suas palavras se cumpriram. No ano de 586 a.C., Nabucodonosor
destruiu Jerusalém e levou cativos para a Babilônia quase todos os
sobreviventes. Mas, a despeito da infidelidade de Israel, Deus mostrou-se
misericordioso. Ezequiel recebeu instruções no sentido de proclamar as
boas-novas de que o exílio terminaria e Israel recuperaria sua posição de
instrumento da salvação de Deus para todos os homens.
A forma pela qual o livro de Ezequiel
apresenta esta mensagem de juízo e de promessa distingue-o dos outros livros
proféticos do Antigo Testamento. A organização sistemática do conteúdo
constitui seu primeiro traço característico. Os primeiros vinte e quatro
capítulos representam a acusação e condenação de Israel, com aterradora
conseqüencia. Esta perspectiva de juízo, minorada somente por lampejos
incidentais de luz, fica compensada na última parte (capítulos 33 a 48) com uma
apresentação também conseqüente com o brilhante futuro que Deus tem reservado
para seu povo. Estas seções compactas de ameaças e promessas a Israel são
separadas por uma série de discursos endereçados às nações estrangeiras,
discursos que têm duplo aspecto: pronunciam juízo e castigo sobre os perversos
vizinhos de Israel, mas a destruição dos inimigos de Israel constitui também
segurança de que não poderão criar obstáculos no cumprimento da promessa de
Deus de redimir e restaurar seu povo escolhido.
Outro traço característico do livro de
Ezequiel é a forma pela qual expressa não somente a ameaça mas também a
promessa. O livro é abundante em visões misteriosas, alegorias ousadas e
estranhos atos simbólicos. Estas formas de revelação divina ocorrem aqui com
maior freqüencia do que em qualquer outro livro profético, e se acham
representadas por uma riqueza de pormenores descritivos. As visões em
particular são bizarras, de forma quase grotesca, e portanto de interpretação
dificil.
Todavia, o significado fundamental do
livro de Ezequiel não escapará ao leitor se levar em conta que a glória de Deus
e suas ações de juízo e salvação se acham apresentadas em linguagem e forma
simbólicas. Aquilo que Ezequiel vê em visões, que descreve em alegorias e põe
em prática numa forma que se assemelha a charadas, tem por objetivo contribuir
para a certeza de que Deus leva avante seu plano de salvação para todos os
homens aos quais ele havia iniciado neste pacto com Israel séculos antes.
Purificado pelos juízos de Deus no exílio babilônio, o povo de Israel se
tornaria de novo o veículo das promessas que se cumprirão no novo pacto e no
final dos tempos. Tudo isto Ezequiel vê em perspectiva profética, na qual se
sobrepõem no mesmo quadro relativo ao reino de Deus futuro e permanente algumas
cenas de um futuro imediato e de um futuro distante.
Autor:
A pessoa de Ezequiel se acha tão
imersa na mensagem, que além de seu nome, pouco sabemos com referência a ele.
Somente dois fatos de caráter biográfico podem deduzir-se do livro: que era
filho de Buzi, o sacerdote, e, diferentemente de seu contemporâneo Jeremias.
Ezequiel era casado, mas "o desejo dos teus olhos" lhe foi tirado de
um golpe, enquanto realizava sua missão por ordem de Deus.
Ezequiel tem sido considerado, com
freqüencia, uma pessoa severa, insensível. Tem-se dito que é impessoal,
indiferente a seus ouvintes, e só lhe preocupa a vindicação da glória de Deus,
mesmo na proclamação da misericórdia. Conquanto seus sentimentos não aflorem à
superficie, como no caso de Jeremias, a afirmativa de que ele não é compassivo
equivialeria a ir além das evidências. Nem tampouco podem os críticos radicais
justificar suas teorias que afirmam que o profeta sofria de ataques catalépticos
e de paranóia esquizofrênica. Os atos simbólicos que ele executa e as visões
que recebe não são, em essência, diferentes dos que os outros profetas
registram.
Ezequiel foi levado para a Babilônia
no ano de 597 a.C., e foi chamado para o ministério profético cinco anos mais
tarde. Exerceu tal ministério ativamente durante um período de vinte e dois
anos, pelo menos (29:17).
_
Walter B. Roehrs
Doutor em Filosofia e Letras
Daniel
Chave: Revelação
Comentário:
O livro de Daniel jamais deixou de
despertar interesse e de provocar controvérsia nos círculos teológicos. Ao
mesmo tempo, cativa os leitores com relatos de heroísmo em tempos de grande
perigo e tem servido de consolo a multidão de fiéis seguidores de Deus quando
lêem comoventes narrativas de sua presença e bênção.
Os primeiros capítulos de Daniel
narram certas experiências dos jovens judeus - Daniel e seus três companheiros
- que fazem parte dos cativos judeus na Babilônia no século sexto antes de
Cristo. A recusa de serem atraídos pelo mundo pagão em que viviam e os perigos
que os ameaçavam por causa de sua fidelidade constituem a essência do drama.
Seus livramentos - Daniel da cova dos leões, e Sadraque, Mesaque e Abdnego da
fornálha ardente - demonstram o poder e o amor de Deus. Nabucodonosor,
orgulhoso e seguro de sua conduta despótica, é humilhado até que reconheça que
a providência de Deus governa inclusive a vida do rei. O drama da escritura na
parede fez que esta frase seja parte proverbial de nosso idioma hoje. O
terrível pecado da arrogância diante de Deus, do qual Belsazar se fez culpado,
traz com certeza a derrota e a morte. As seções narrativas do livro, entre as
mais famosas da literatura, mantêm nosso interesse não somente pelo drama, mas
também por sua vigência toda vez que o materialismo e o paganismo ameaçam
envolver os filhos de Deus.
As visões que o livro de Daniel
proporciona, quer sejam dadas a governantes pagãos ou ao próprio Daniel, são
consideradas por sinceros estudiosos da Bíblia como uma visão prévia do mundo
através da história até aos últimos dias. As profecias relativas aos quatro
reinos e ao quinto grande reino, o reino de Deus, constituem um quadro da
marcha do império. Os quatro reinos formaram-se de acordo com a profecia; o
quinto reino espera seu cumprimento por ocasião da segunda vinda de nosso
Senhor.
Os grandes temas da profecia de Daniel
são assunto de vital solicitude para a igreja na atualidade: a apostasia do
povo de Deus, a revelação do homem de iniquidade, a tribulação, a segunda
vinda, o milênio e o dia de juízo. Ao abir o livro de Daniel, vemo-nos às
voltas com uma interpretação da história que não somente se cumpriu em grande
parte, mas que se cumprirá totalmente. Esta certeza é que faz que o livro de
Daniel seja de vital e significativa importância na presente época.
Autor:
No terreno histórico, tanto o Judaísmo
como o Cristianismo têm incorporado o livro de Daniel no cânon, considerando-o
obra autêntica do período acerca do qual afirma falar, isto é, do sexto século
antes de Cristo, escrito por Daniel. Não existe base científica de nenhuma
natureza que justifique afastar-se da aceita tradição judaico-cristã, no
sentido de que o livro foi escrito no século VI a.C., por Daniel.
_
G. Douglas Young
Doutor em Filosofia e Letras
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