quinta-feira, 2 de maio de 2019

A ARQUEOLOGIA E A PROFECIA

A arqueologia muito revelou do contexto social e político no qual os profetas proferiram suas profecias arrebatadoras. Entender este contexto dá nova dimensão à realidade e significado do texto bíblico. Este sentimento foi expresso pelo arqueólogo William Dever que, numa entrevista, compartilhou estas palavras: Para mim, a grande emoção a respeito da arqueologia é que ela me permite ler a Bíblia de uma nova perspectiva. Quando leio uma descrição sobre a vida diária em um dos livros proféticos, não estou pensando naquele momento apenas no que o profeta está dizendo, mas estou pensando no século VIII a.C., como era realmente para o israelita comum. Quando leio o texto, eu o leio com uma sensibilidade e compreensão que só um conhecimento da arqueologia pode dar ao texto. O texto torna-se vivo para mim de uma maneira diferente. Contudo, nem todo o mundo partilha do entusiasmo de Dever. Ainda que Dever preocupa-se menos com a palavra dos profetas do que com o mundo deles, não obstante, reconhece que a arqueologia revela que a palavra teve um contexto histórico demonstrável.
Para o crente na Bíblia, tal percepção inclui evidências da revelação sobrenatural de Deus na história. Para o cético, porém, nosso mundo é um sistema fechado, no qual não existe a possibilidade de intervenções divinas contrárias à ordem natural observável. Para eles, parece inimaginável que alguém acredite que eventos possam ser preditos, muito menos cumpridos. Mas não se pode fugir do fato de que as páginas da Bíblia estão cheias de profecia. Do Gênesis ao Apocalipse, quase todos os livros registram alguma predição de eventos futuros, centenas já se cumpriram e muitas outras ainda aguardam a realização. Estas profecias não estão pintadas com largas pinceladas, mas com detalhes sutis. Isto posto, a disparidade de somente algumas terem-se cumpridas por casualidade é tão astronômica, que têm de desafiar os céticos a considerar o retrato sobrenatural que elas apresentam. E como parte da história, os eventos profetizados, embora originários do sobrenatural, ainda podem se revelar nas pedras.
O período dos profetas
O período no qual os profetas bíblicos dizem ter ministrado à nação israelita está apoiado por numerosas evidências de inscrições e de importância histórica. Sem mostrar deferência a pessoas, os profetas chamaram igualmente reis e cidadãos para prestar contas, desviando-os da idolatria quando atendiam as advertências de Deus, mas sofrendo com eles no exílio quando resistiam ao gesto de Deus. A arqueologia pode apresentar as razões práticas que provocaram tais indiciações proféticas, revelar os lugares que eram o assunto das profecias e identificar as pessoas que fizeram ouvido de mercador para com as predições. Deste modo, a arqueologia oferece algumas evidências para a realidade da profecia em si.
O propósito da profecia
No antigo Oriente Próximo, onde todas as culturas circunjacentes a Israel tinham múltiplas deidades, o contexto da fé de Israel era muitas vezes uma competição entre deuses nacionais. Nesta batalha pela crença, o deus cujas colheitas fossem abundantes, ou de cujo exército saísse vitorioso, era considerado o mais poderoso. No aspecto teológico, esta era uma das maiores ameaças ao povo de Deus e, lamentavelmente, era uma guerra espiritual que os israelitas perdiam com freqüência {vide Jr 11.13). Os profetas de Israel tiveram de competir com nações que diziam aos israelitas que a inabilidade deles de resistir à imposição de pagamentos de tributo ou mesmo o exílio por potências mais fortes, era prova de que o Deus de Israel era inferior (vide 2 Rs 18.32-35; Ez 36.20). Os profetas responderam explicando que o Deus de Israel não se submetia aos padrões pagãos de soberania.
Disseram que as situações difíceis de Israel eram na verdade prova da força de Deus, porque era Ele que compelia os estrangeiros a invadir Israel para castigar o povo dos pecados que este cometia. As potências estrangeiras que exilaram Israel foram simplesmente as varas da ira de Deus (Is 10.5-11; vide também 2 Rs 24.2,3; Hc 1.6-11). Portanto, o Deus de Israel desafiou as nações a colocar seus deuses em teste. Seus profetas anunciaram o teste que de maneira inquestionável iria demonstrar quem era verdadeiramente soberano: Apresentai a vossa demanda, diz o SENHOR; trazei as vossas firmes razões, diz o Rei de Jacó. Tragam e anunciem-nos as coisas que hão de acontecer; […] ou fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses. […] Este[s] que anuncie[m] as coisas futuras e as que ainda hão de vir (Is 41.21-23; 44.7). De acordo com o profeta Isaías, este teste de profecia foi projetado para desfazer os sinais dos inventores de mentiras, fazer tornar atrás os sábios e transtornar a ciência deles, confirmar a palavra do seu servo e cumprir o conselho dos seus mensageiros (Is 44.25,26). Então Isaías ofereceu evidências de que Deus podia satisfazer seu próprio desafio, apresentando uma extraordinária profecia que poderia ser verificada na história posterior.
Uma prova da profecia
A prova que Isaías expôs foi o edito de Ciro, o rei persa que permitiu que os judeus voltassem a Judá e reconstruíssem o Templo de Jerusalém (2 Cr 36.22,23; Ed 1.1-11): Suscito a um do Norte, e ele há de vir; desde o nascimento do sol, invocará o meu nome; e virá sobre os magistrados, como sobre o lodo; e, como o oleiro pisa o barro, assim ele os pisará (Is 41.25). Esta é referência a Ciro, que era de origem do leste (“o nascimento do sol”) da Babilônia (de procedência da Pérsia), mas chegou como atacante do norte para exercer soberania sobre governantes que não ofereceram resistência (simbolizados pelo poder do oleiro sobre o “lodo” e o “barro”). Contudo, referência muito mais definida é dada ao término do capítulo 44 e início do capítulo 45.4 Quem diz de Ciro: E meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao templo: Funda-te. Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face (Is 44.28—45.1).
De acordo com a cronologia interna do livro de Isaías, esta predição foi feita a mais de 150 anos antes de sua realização. E sem igual em sua precisão — não só descrevendo a invasão de Ciro na Babilônia, mas também fornecendo tamanhos detalhes como o nome da pessoa de Ciro (Is 44.28; 45.1), ações concernentes ao Templo (Is 44.28) e a libertação dos judeus exilados (Is 45.13). Este último evento ajusta-se perfeitamente com a profecia de Jeremias de que o cativeiro de Israel terminaria depois de 70 anos (Jr 25.12). Levando- se em conta esta notável prova do controle divino na história, Isaías conclui com a declaração divina: “Eu sou o SENHOR. […] Eis que as primeiras coisas passaram, e novas coisas vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir” (Is 42.8,9). Deus não apenas passou em seu próprio teste; mas entende-se que ninguém jamais o conseguirá: “Quem anunciou isso desde o princípio, para que o possamos saber; ou em outro tempo, para que digamos: Justo é? Mas não há quem anuncie, nem tampouco quem manifeste” (Is 41.26, ênfase minha).
Fonte: Thomas Urquhart, The Wonders of Prophecy (Nova York: C. C. Cook, s.d.), p. 93. 2. Como declarado no artigo escrito por Hershel Shanks, “Is the Bible Right After All?: BAR Interviews William Dever” (Part 2), Biblical Archaeology Review, volume 22, n.° 5 (Setembro/Outubro de 1996), p. 35.

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